Sinta-se à vontade! Está vendo aquele sujeito de camisa amarela, encostado no balcão? Pois então... É o freguês mais antigo deste "café zurrapa", como tantos que existem no Largo da Lapa. Folião de raça, há muito já passou do quarto copo de cachaça! Como diria Ary Barroso: "isso não é chalaça"!
Sempre quis conhecer Paraty e nem era por causa da Flip (a agora famosa Festa Literária de Paraty, à qual nunca fui, destaque-se). A vontade era bem anterior e vinha desde os tempos de colégio, quando, aluna relapsa que fui, não pude ir à excursão que o colégio organizou para lá. Estava de castigo, como em tantas outras vezes. Quem mandou não estudar e tirar notas tão ruins? Não, não me orgulho disso...
Depois dessa primeira frustração, estive lá de passagem umas duas vezes, sem nem ter tido tempo de me dar conta de que Paraty vai além de seu centro histórico, tem praias lindas ao redor, cachoeiras, alambiques, além de um charme noturno todo especial. Lembro que uma das vezes foi com uma excursão de ônibus para o Sul, em companhia da minha avó e a "estadia" não deve ter durado sequer uma hora. A outra deve ter sido com meus pais, em alguma das poucas vezes em que estivemos em Angra. Deve ter sido, mas não lembro direito.
No feriadinho de 12 de outubro, porém, tive a oportunidade de viver um pouquinho de Paraty. Com a desculpa de comemorar nossos dois anos de casamento, arrastei o Flávio para uma visitinha à nossa amiga Jaque. Sim, hoje eu tenho uma amiga que vive em Paraty. Ela foi para lá de férias há cerca de seis meses, se apaixonou pelo Diego e acabou ficando. E, bem, parece feliz. Eles vivem no que lá chamam de flat: uma casinha de dois andares com sala, cozinha americana, área e lavabo embaixo; quarto e banheiro em cima.
No cantinho deles, que fica na estrada Paraty-Cunha, há ainda outros flats e uma pousada, tudo da mesma dona (aliás, um amor de pessoa). Ao fundo do terreno, corre o rio, aquele mesmo que subiu na última enchente: o Perequeaçu, se não me engano. Tudo muito bucólico, muito bonito... Amei. E tivemos sorte, porque a chuva que prometia estragar o fim de semana prolongado quase não atrapalhou. Sim, porque é claro que choveria, não é!? Nada pode ser tão perfeito!
Como ando propensa à prolixidade, contarei o passeio aos pedaços. Até porque preciso ganhar tempo para descobrir os nomes certinhos dos lugares que pretendo citar aqui. Já tomei nota de alguns para perguntar à Jaque e, logo, logo, prometo que dou continuidade à narrativa.
Todo sábado de pós, namoro os restaurantes bacaninhas da rua do Rosário. O pessoal da turma nunca está a fim, porque são mais caros e, bem, quase todos são professores... Ou seja, valem-se daquela desculpa clássica: "professor ganha mal". Além disso, é realmente mais fácil conciliar tantos gostos e preferências culinárias nos tradicionais restaurantes a quilo. Com isso, inovações são raramente bem-vindas.
Pensando bem, creio que eles só gostaram mesmo de conhecer a livraria Folha Seca (por conta do excelente acervo e por ter o café espresso mais barato das redondezas) e um restaurante a quilo do qual já nem lembro o nome na 1º de Março. Nada demais, apenas mais uma opção para o almoço comunitário (é impressionante como o povo se condiciona a ir sempre aos mesmos lugares e nem olha para os lados).
Da última vez, porém, consegui convencer o Márcio (um dos dois meninos da turma) a tomar uma sopinha e comer um sanduba na Brasserie Rosário. Foi providencial para a ressaca (sim, do tipo inesquecível), mas exagerei. Comi até sobremesa! E, assim, o almoço saiu uma pequena fortuna. Analisando agora, semanas depois, teria trocado o sanduíche por uma quiche com salada... mas manteria o doce. Precisava demais de glicose naquele dia!
O fato é que minha maior frustração era não conseguir almoçar na Al-Farábi, misto de livraria, restaurante, bar, livraria, sebo, galeria e sabe-se lá mais o quê, que fica na rua do Rosário. Já tinha tomado café, comprado livro, tomado cerveja (diversas opções boas e geladas), mas almoço que é bom, nada. Até ontem, quando consegui convencer a Si a sair lá dos arredores da praça Mauá para me encontrar ali, com a desculpa de ser meio do caminho para ambas. Amei.
Pena que a hora do almoço é tão curta e nem deu para zanzar entre os livros, tomar uma ou duas Therezópolis Gold, bater papo com o Simas (figurinha fácil por ali e um dos professores que marcaram minha vida). Aos sábados, infelizmente, fecha cedo, mas já combinei com a Si de voltarmos um dia de semana, após o expediente. Vejamos.
Amo essa ideia de reunir tantas coisas num só lugar. Parada na porta, enquanto esperava a Si, passa uma dona perguntando pela livraria. Respondi que era ali mesmo, e ela, vendo as mesas espalhadas pela rua: "Ah, pensei que fosse um restaurante!" E eu: "Mas é, também"
Ando meio sem vontade de escrever no blog. Não é falta de assunto, porque estes estão por aí, em toda parte. Basta um pouquinho de disposição e pronto: escreve-se. Às vezes, um tema sem muita importância pode virar um texto bacana. É possível, sim, tirar leite de pedra. Mas não é por isso que não tenho escrito aqui...
O problema maior é que os assuntos sobre os quais tenho pensado ultimamente não são muito publicáveis, são coisas que não pretendo divulgar, debater abertamente: são pessoais. Bem, meu blog é estritamente pessoal, já que só falo sobre o que me interessa e ponto final. Entretanto, justamente por isso, faço uma pré-seleção do que desejo ou não tornar público e notório. Por conta disso, aliás, já deixei de comentar um monte de coisas. Inclusive, porque, há coisas que só fazem sentido se escritas no timing certinho. Se passou aquele momento exato, já era. Melhor calar.
Bem, tudo isso é apenas para dizer que ainda estou por aqui, sim. O blog está ativo, embora eu não esteja tanto assim... Estou ligeiramente fechada para balanço, repensando escolhas e caminhos. Sinto que estou vivendo um momento crucial, daqueles em que é preciso tomar uma posição. E eu não quero me deixar apenas "levar pela maré". Quero decidir. E, com isso, me lembro do verso de Fernando Pessoa: "Navegar é preciso, viver não é preciso".
Todos os dias me deparo com esta Nau Capitânia, atualmente em exposição no Espaço Cultural da Marinha (RJ) Aos interessados: de terça a domingo, das 12h às 17h - É de graça!
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito [d]esta frase, transformada a forma para a casar como eu sou: Viver não É necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho Na essência anímica do meu sangue o propósito Impessoal de engrandecer a pátria e contribuir Para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
Aproveitando a deixa, segue a letra da música Os Argonautas, de Caetano Veloso, que dialoga com o poema acima:
Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar É ele quem me carrega Como nem fosse levar É ele quem me carrega Como nem fosse levar
E quanto mais remo mais rezo Pra nunca mais se acabar Essa viagem que faz O mar em torno do mar Meu velho um dia falou Com seu jeito de avisar: - Olha, o mar não tem cabelos Que a gente possa agarrar
Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar É ele quem me carrega Como nem fosse levar É ele quem me carrega Como nem fosse levar
Timoneiro nunca fui Que eu não sou de velejar O leme da minha vida Deus é quem faz governar E quando alguém me pergunta Como se faz pra nadar Explico que eu não navego Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar É ele quem me carrega Como nem fosse levar É ele quem me carrega Como nem fosse levar
A rede do meu destino Parece a de um pescador Quando retorna vazia Vem carregada de dor Vivo num redemoinho Deus bem sabe o que ele faz A onda que me carrega Ela mesma é quem me traz