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quarta-feira, 27 de abril de 2005

Sobre o show de Paulinho da Viola

Não gosto de shows na praia. Geralmente, o som é ruim, tem gente demais, cerveja de menos, conforto nenhum. Quando se trata de Copacabana, então, pior ainda. E se o evento contar com alguma “celebridade”, melhor nem sair de casa. Como ficou provado no dia do show do Lenny Kravitz, quando o Rio sofreu um colapso no trânsito.

Entretanto, um show na praia de Icaraí sempre tem chances de ser algo imperdível. Foi assim, anos atrás, com o show do Madredeus. E foi assim, de novo, com o show de Paulinho da Viola, no dia 23 de abril. O evento fez parte da programação da prefeitura de Niterói, celebrando o Dia Nacional do Choro (também dia de São Jorge). Neste dia se comemora o aniversário de Alfredo da Rocha Viana, nosso Pixinguinha, um dos maiores nomes do choro no Brasil. É dia de música, muita música. Até porque, em parte, é graças a ela que “a gente vai levando”, como já dizia Chico e Caetano.

O show do Paulinho da Viola aconteceu debaixo de um aguaceiro histórico... Algo assim inesquecível! Com Eduardo Neves na flauta, Christóvão Bastos ao teclado e um menino chamado João Rabello no violão. Fora a galera da cozinha, claro. Maravilhoso demais. Claro que o início foi complicado, por conta das pessoas que insistiam em ficar sentadas, julgando-se donas da areia e reclamando dos que preferiam ficar de pé. Só porque elas conseguiram assistir sentadas ao show de abertura, do grupo Unha de Gato, não significava que permaneceriam confortavelmente instaladas durante a apresentação de Paulinho. Tinha muito mais gente! E, além disso, uma coisa é ouvir música instrumental sentado... Outra, bem diferente, é ouvir samba.

Mas a chuva – o temporal, melhor dizendo – chegou para resolver a questão: obrigou a galera a "levantar o traseiro" (citando Lula). Alguns foram embora, mas a platéia continuou lotada. Todos de pé, cantando e dançando (na medida do possível), partidários do ditado que diz que “quem está na chuva é pra se molhar”. E põe molhar nisso... Minha roupa não secou até hoje.

segunda-feira, 25 de abril de 2005

Uma orgia gastronômica e musical

Véspera de São Jorge, sexta-feira. Ao sair do trabalho, ando até o estacionamento. Vou buscar o carro para ir a uma roda de choro. No caminho, vejo os preparativos para a festa em homenagem ao santo. A rua Alcides Figueiredo, onde fica a igreja, tem um cheiro maravilhoso de cocada no ar (pena não poder reproduzi-lo aqui). Paro para comprar bolinhos de aipim fritos na hora. E, claro, paro para comprar cocada.

Minha vontade é ficar por ali, sentindo aquele cheiro açucarado. Mas resisto bravamente e sigo em direção ao estacionamento. Bolinhos e cocadas embrulhados para viagem. Meu carro fica impregnado pelo cheiro. Vou para Icaraí, quero ver o choro na praça. Afinal, dia 23 de abril também é o Dia Nacional do Choro, quando se comemora o aniversário de Pixinguinha.

Chego à esquina de Moreira César com Ary Parreiras: a música já havia começado. O comportado público niteroiense assiste ao show sentado nas cadeiras de plástico disponibilizadas pela prefeitura. Consigo um lugar e, como se estivesse em transe, desembrulho meu pacote ao som de Pixinguinha e Jacob do Bandolim. Não sobrou nada. Só lembro vagamente de pensar que Niterói talvez seja o paraíso.

Que venha o novo papa!

Tentei manter-me alheia à sucessão do papa. Não consegui. Primeiro, por causa de um e-mail enviado por um amigo que se mostrava surpreso com a comoção causada pelo assunto. Ele tinha ido comprar cigarros em um botequim e notou que as pessoas acompanhavam a disputa como se fosse uma Copa do Mundo. Torciam por um papa brasileiro e isso o preocupava bastante.

Não sei bem o motivo, mas gastei linhas respondendo que não me importava com essas bobagens. Cheguei até a tentar mostrar que um papa brasileiro não poderia ser assim tão ruim. Afinal, além de ser algo bastante improvável, havia candidatos bem piores. Algo que os cardeais fizeram questão de ratificar em seguida, elegendo um inquisidor, um nazista que ironicamente decidiu chamar-se Bento XVI. Tudo bem que a igreja seja reacionária, mas dessa vez exageraram!

O segundo fato que me fez abandonar de vez minha postura indiferente veio no dia em que anunciaram a escolha desse novo papa. Eu havia lido algo a respeito na internet e, logo em seguida, saí para o almoço. Caminhava tranqüila por entre os camelôs da rua São Pedro, no Centro de Niterói, quando notei duas mulheres conversando.

Uma gritou para a outra: “Por que esses sinos não param de bater?” Ao que a outra respondeu: “Já escolheram o novo papa. Acabei de ver na TV!” “E quem é?”, perguntou a primeira. “Não disseram ainda”, respondeu a segunda. Ouvindo este diálogo é que fui me dar conta da importância que o assunto tem para as pessoas. Comecei a achar que se tratava de um fato relevante afinal. Eu estava vivendo um momento histórico.

O impressionante é ver como a igreja católica continua a interferir na vida das pessoas. Pensando assim, experimentei uma sensação angustiante: andar pela rua São Pedro ao som do badalar ininterrupto dos sinos da igreja de São João. Tal como um metrônomo castrador, impõem seu ritmo: impossível apressar ou diminuir o passo. Por isso, acredito que não podemos fingir que a igreja não existe. É preciso conhecê-la para poder combatê-la.

domingo, 10 de abril de 2005

É possível ser feliz...

Dia desses, fui ao shopping. Confesso não ser, este, meu habitat natural. Não consigo mesmo conceber como há quem ame shoppings centers. Para mim, soa bastante desagradável esbarrar em milhares de pessoas e ficar imersa naquele burburinho constante. Principalmente, nos fins-de-semana, quando parece não existir outras opções de lazer disponíveis pela cidade. Senão, como explicar a enorme quantidade de adolescentes que perambulam pelos corredores em pleno sábado à noite? Falta de segurança nas ruas? Talvez... Mas será apenas isso?

Estava lá, com o Rodrigo, à espera de um amigo. Não podia olhar as vitrines, sob pena de me desencontrar do Rafael. Isso só faria prolongar minha permanência no shopping, portanto tratei de ficar bem à vista. No terceiro piso, parada ao lado de uma pilastra, debrucei-me sobre a grade que dava para o interior do shopping. Passei a observar as pessoas e, especialmente, as crianças que brincavam nos três bungee jumps do primeiro piso. Pareciam estar se divertindo.

Foi então que a vi. Aguardando sua vez, estava uma menina gordinha, branquela, de cabelo preto, liso e comprido. Meu primeiro sentimento foi um misto de pena e orgulho, porque ela era gorda e ia se aventurar naquele brinquedo de elásticos, onde crianças esquálidas estavam brincando... Mas sei que ser gorda em um mundo de magros é muito difícil. Aquela criança era eu. E não conseguia deixar de olhá-la.

Fiz com que o Rodrigo também prestasse atenção na menina. Ficamos lá, os dois, acompanhando cada movimento. Vimos quando o responsável pelo brinquedo trouxe um cinto e tentou prendê-la. Era pequeno. Ele saiu em busca de outro, mas a menina nem se abalou. Chamava atenção o seu sorriso, de orelha a orelha. Parecia não se importar com nada disso. Deixou-se amarrar com o outro cinto e ficou lá, esperando sua vez. Vez ou outra, virava-se para a mãe e dava um tchauzinho. Era a própria celebridade.

Finalmente, chegou sua vez. Aos saltos, subiu no brinquedo. Deixou-se prender ao elástico e começou a ser içada. O responsável a puxou, para largá-la em seguida. E ela foi até o alto e começou a cair. O sorriso permanecia inabalável e parece ter contagiado o sujeito que ficava ali para lhe dar impulso. Ele passou a pular junto com ela e a menina, cada vez mais sorridente, começou a balançar as perninhas a cada descida. E tremia toda, como num gozo. Era gostoso de ver. Ela era gorda e estava feliz. E a mãe também sorria.

A brincadeira acabou. A menina saiu do brinquedo tão sorridente como no início, completamente descabelada. Mãe e filha seguiram seu caminho pelo shopping. Eu e Rodrigo nos olhávamos, meio em transe, já sem palavras para comentar o que tinhámos visto. O Rafael chegou com a namorada. Não comentamos nada. O assunto morreu. Entretanto, ficou a certeza de que aquele foi um momento único. E o shopping, outrora tão assustador, de repente ganhou uma certa magia. Mas ainda assim não consigo entender o porquê de lá haver tanta gente. É uma pena, mas felicidade (como a da menina) é coisa que dá e passa.