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terça-feira, 18 de novembro de 2008

Se continuar assim, o Rio vai virar mar...

Ontem, lembrei de Moreira da Silva, que tinha em seu repertório uma música chamada Cidade Lagoa, cuja letra diz o seguinte:

"Essa cidade que ainda é maravilhosa
Tão cantada em verso e prosa
Desde o tempo da vovó
Tem um problema vitalício e renitente
Qualquer chuva causa enchente
Não precisa ser toró
Basta que chova mais ou menos meia hora
É batata, não demora
Enche tudo por aí
Toda cidade é uma enorme cachoeira
Que da praça da Bandeira
Vou de lancha ao Catumbi
(...)"

O temporal, que durou cerca de 40 minutos, trouxe os já conhecidos engarrafamentos, desabamentos e afins. A volta pra casa foi, como sempre acontece nesses casos, complicada. A pé, enchente. De carro ou ônibus, trânsito caótico. Metrô e trem? Filas intermináveis e a chance de virar sardinha em lata.

Cheguei ao metrô da Cinelândia acompanhada pelo Marcelo Vital – colega de trabalho e também tijucano – e vi que a fila já subia as escadas. Decidimos, então, fazer uma hora pra ver se a coisa acalmava. Tomamos um suco de manga e, às 20h, tentamos de novo. Dessa vez, a fila não subia pelas escadas, mas fazia um enorme caracol. Difícil de achar o fim, desanimador.

Resolvemos caminhar até a Lapa para, de lá, ver que rumo tomar. Logo no princípio, quase desistimos por conta das pessoas que atravessavam a rua no sentido contrário, com sacos plásticos nos pés. Entretanto, a água já havia baixado e chegamos a pensar que por ali não havia caos algum. Ledo engano. Mem de Sá: engarrafada a perder de vista.

Os ônibus, enfileirados, pareciam estar meramente estacionados. Pelas calçadas, vazias, fomos pulando as poças até a praça da Cruz Vermelha. Lá, um gigantesco nó impedia o fluxo de seguir adiante, tanto que, dali em diante, não havia trânsito. Nem ônibus, portanto. Lembro que cheguei a comentar que parecia uma cena do filme Ensaio sobre a cegueira... Pessoas andando a esmo, tentando encontrar o caminho de casa... A única diferença é que todos enxergavam, acho.

Seguimos até o Sambódromo. Escuridão, poças maiores, sujeira, Salvador de Sá praticamente deserta. Chegamos ao Estácio. Metrô? Não, agora era melhor passar a Paulo de Frontin... E fomos. Por sorte, não havia mais enchente. Na estação seguinte, na praça Afonso Pena, peguei um 415 até em casa. Vital, que mora nas proximidades do Maracanã, ainda seguiu a pé o resto do caminho. Enfim...

17 de novembro de 2008, o dia em que caminhei do Centro à Tijuca.


Lá como cá? Vários guarda-chuvas quebrados, jogados em latas de
lixo de Bremen (Alemanha), após tempestade que atingiu o
país em 18 de janeiro de 2007, deixando pelo menos 10 mortos.
(AP Photo/Joerg Sarbach)