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terça-feira, 20 de dezembro de 2005

Por ti Javé

...ou Narradores de uma América Pré-Colombiana?


Venci a preguiça e fui ao CCBB assistir à mostra “Por ti América” (em cartaz até 29 de janeiro). De repente, me vi em meio a fragmentos de civilizações tão anteriores à nossa. Verdadeiros pedaços de um continente com o qual mal conseguimos sonhar... É a velha história: seriam os deuses astronautas? Sei lá. Mas o fato é que são várias perguntas sem resposta e uma enorme quantidade de conhecimentos perdidos, talvez para sempre.

É aterrador perceber que da cultura riquíssima de um povo, muitas vezes, só sobram os vasos, pequenas esculturas e enfeites. Na exposição, além disso, vemos pedaços de tecidos e vídeos explicativos. Os nomes dos povos, os tais sambaquis, tupinambás e afins, a gente vai aprendendo aos poucos... E o nome dos locais, idem. Afinal, quando se fala em América Pré-Colombiana, não dá para usar a terminologia atual e referir-se a Brasil, Argentina... Então, dá-lhe Mesoamérica, Andes etc.

Essa visita me fez lembrar, ainda, de um filme a que assisti em dvd. Já faz alguns meses, mas não cheguei a comentá-lo por aqui. Chama-se “Narradores de Javé” e é um filme que fala sobre a memória de um povo. Dirigido por Eliane Caffé, o filme traz no elenco nomes como o de José Dumont, Matheus Nachtergaele, Gero Camilo, Nelson Dantas e Nelson Xavier, entre outros. A história conta o seguinte: ao saberem que a cidadezinha de Javé será inundada para a construção de uma usina hidrelétrica, os moradores decidem preparar um documento contando os grandes feitos da cidade, numa tentativa de salvá-la da destruição. Para isso, recorrem a Pedro Biá (José Dumont), que é o único que sabe escrever e que, no passado, numa tentativa de salvar seu emprego nos Correios, provocou uma grande confusão ao escrever cartas anônimas para todos.

O filme é simples. Singelo talvez seja a melhor palavra. Os personagens são engraçados, embora um tanto superficiais... E as situações, ah, são engraçadíssimas! Além do mais, acho tão poética a história das cartas de Pedro Biá! Eu mesma já me peguei prometendo voltar a enviar cartas, caso os Correios corressem o risco de fechar suas portas por causa da internet... Mas, voltando ao filme, embora o fim deixe um pouco a desejar, considero-o imperdível. Tanto quanto a exposição, aliás. Fico imaginando aqui o que teríamos sabido se cada povo, antes de desaparecer, produzisse um documento coletivo em que contasse toda a sua história. Talvez fosse uma narrativa tendenciosa e, com isso, se tornasse um fragmento a mais. Mas é possível, também, que fosse a chave para milhares dos mistérios que permeiam a história da humanidade. E, assim, poderíamos olhar para o futuro com mais atenção, pois teríamos – verdadeiramente – uma consciência do passado.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

E os camelos? Também choram?

Viram só? O tal camelo albino é de verdade!

Há tempos não comento filme algum. Em primeiro lugar, porque – já disse isso aqui – passei um bom tempo sem ir ao cinema. Mas, principalmente, porque não tenho tido muita vontade de escrever sobre nada. Tanto que assisti a “Camelos também choram” e mantive-me quieta. Talvez até porque não tenha muito a dizer a respeito... Não que o filme não valha a ida ao cinema – não me entendam mal – até que vale, mas o fato é que, digamos assim, a história não é lá muito movimentada.
Aviso logo aos que detestam filmes com estética culturalmente distinta da ocidental e que passam longe dos cinemas que exibem longas-metragens iraquianos, japoneses e afins: esta é uma co-produção Alemanha/Mongólia. Portanto, como não faço questão de convencer ninguém, por mais que abomine esse tipo de atitude preconceituosa (e descabida), acho que é uma boa oportunidade para ficar em casa. Se não gosta, melhor nem ir ao cinema, porque senão atrapalha. Se bem que o filme já saiu de cartaz... Então, caso o encontre em dvd, pense bem antes de alugá-lo. Depois, não diga que não avisei...
Mas, voltando ao filme... O curioso é que praticamente todos os amigos com quem conversei a respeito acharam o título muito engraçado. A primeira reação, em geral, foi rir. Muito. Afinal, como assim camelos também choram? Em seguida, muitos me perguntaram se se tratava de um desenho animado... Alguns ficaram um tanto decepcionados com a resposta, outros, simplesmente, não acreditaram em mim. “Documentário? Fala sério, né???” “Tipo Discovery?” Foram algumas das coisas que escutei.
Então, tomei coragem, convenci minha metade a me acompanhar – e só depois de muita relutância, consegui convencê-lo a ir ao cinema – e, finalmente, assisti ao filme. Já sabia da história do camelinho albino rejeitado pela mãe, já sabia que o cenário era o deserto de Gobi, sabia que a única esperança era que a mamãe camela ouvisse um violino (?) e também sabia que dois jovens sairiam em busca de um músico que tocasse o instrumento. Enfim, talvez eu já soubesse o filme inteiro. E olha que ele não é muito longo...
Se é assim, por que vale a pena assistir? Ora, em primeiro lugar, porque mesmo sabendo de cor todo o roteiro – convenhamos – camelo albino? Só vendo pra crer! E, em segundo, porque o filme é bem mais que isso: diria que é um poema audiovisual. Afinal, são várias as metáforas que podem ser lidas nessa história de rejeição, diferença de cor... E, gente, tudo se resolve com música! Ainda que o tal violino esteja mais para cítara... Mas isso tudo serve para mostrar que não é preciso apelar para o óbvio: o filme é uma excelente oportunidade de termos contato com os costumes de um povo cuja existência a gente nem sequer conhecia. Além de também aprender mais sobre os próprios camelos, animais quase míticos que têm fama de melancólicos (aliás, o filme fala sobre isso!). Ou seja, uma verdadeira aula.

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

É preciso vencer a inércia...


Capa do livro, publicado em 1999 Posted by Picasa


Sinto-me improdutiva: eis uma verdade que tem me assombrado. Tenho todo o tempo livre com que sonhava meses atrás e, no entanto, não consigo organizá-lo minimamente para fazer tudo o que julgava importante então. Quantas vezes pensei, por exemplo, durante o expediente, em como seria maravilhoso poder ir ao Festival do Rio e assistir a todos os filmes que quisesse! Quantas vezes sonhei acordada com exposições, peças de teatro, eventos mil, acessíveis apenas a estudantes, aposentados e/ou trabalhadores com um horário mais flexível! Hoje, tenho o tempo, mas me falta a iniciativa... E acabo deixando de fazer coisas que poderiam ser muito interessantes. A verdade é que, por mais que me incomode, sou fruto de uma sociedade capitalista que relaciona tempo a dinheiro, fazendo com que aqueles que não empregam formalmente sua força de trabalho sintam-se excluídos e imprestáveis. A ociosidade acaba, portanto, tornando-se uma grande inimiga.

Estar ociosa tem contribuído para minha apatia. Há dias em que minha inércia é tanta que não consigo sair de casa! Ir ao cinema, então... Para minimizar esse sentimento de prostração, venho tentando ocupar meu tempo com coisas que me dão satisfação e que possam vir a ser úteis para mim. Ou seja, continuo minha faculdade, estudo espanhol, tento manter-me atualizada com o mundo etc. Crio uma rotina, embora flexível: marco compromissos em minha agenda, elaboro um cronograma, faço planos. O problema é que isso me soa um tanto neurotizante... Parece que mesmo o tempo que empregamos em lazer e estudo, ainda que prazeroso, deve ser visto como um potencial gerador de renda no futuro, um investimento a longo prazo... Maldito planejamento estratégico!

Por essas e outras, penso em ler “O ócio criativo”, de Domenico de Masi (Sextante, 1999). O livro tem como pano de fundo uma profunda insatisfação com o modelo social imposto pelo Ocidente, cujo centro está na idolatria do trabalho, do mercado e da competitividade. A este modelo o autor contrapõe outro, no qual as pessoas – ao conseguirem se libertar da idéia tradicional de trabalho como obrigação – exercitam o “ócio criativo” e investem na simultaneidade de trabalho, estudo e lazer, privilegiando a satisfação de necessidades radicais, como a instrospecção, o convívio, a amizade, o amor e as atividades lúdicas. Só não sei até que ponto essa mudança de paradigma é possível... Mas por que não tentar?

terça-feira, 30 de agosto de 2005

As pessoas são para o que nascem?


Capa do CD

Não tenho ido ao cinema, daí o “silêncio” deste blog nos últimos tempos. Vejo os filmes entrarem e saírem de cartaz, e eu sem muita disposição para assisti-los. Andei, inclusive, sem vontade de escrever e, por isso, acabei não comentando nada sobre o filme “A pessoa é para o que nasce”, que foi o último a que assisti no cinema. Perdão, Maria. Perdão, Regina. Perdão, Conceição. O documentário sobre as três ceguinhas de Campina Grande é obrigatório.

Fui ao cinema um tanto desconfiada, confesso. Em tempos de “politicamente correto”, implicava com a denominação ceguinhas. Afinal, por mais carinhoso que seja, um diminutivo é sempre um diminutivo. E pode ser bastante depreciativo. Além do mais, há toda uma pressão social que faz com que as pessoas sintam-se bastante desconfortáveis e não saibam qual a melhor maneira de referir-se àqueles que não enxergam. Acabam chamando-os de qualquer outra coisa, menos cegos. Alegam por aí que este é um termo pejorativo... Será mesmo? Deficiente visual não é pior?

Enfim, não pretendo me prolongar nesse assunto. O fato é que me incomodava um pouco o conformismo expresso no próprio título. E não conseguia entender o que fazia com que as pessoas se encantassem com aquelas senhoras. Afinal, outro dia mesmo, passando pela porta de um supermercado na Tijuca, vi uma senhora tão pobre, cega e desgrenhada quanto as 3 ceguinhas. Ela estava com seu pandeiro e cantava: ninguém parou para dar-lhe um centavo que fosse. Aposto mesmo que gostariam que ela estivesse bem longe dali e, de preferência, nem existisse. Será que é por que ela não está no cinema?

Debates sociológicos à parte, saí do cinema de alma lavada. As três ceguinhas são de uma espontaneidade capaz de calar a boca do mais fervoroso dos críticos. Com declarações por vezes desconcertantes, chega a ser divertido vê-las interagindo com o diretor. Aliás, Roberto Berliner está de parabéns, pois conseguiu abordar de forma poética um tema tão árido. Gostei tanto do filme que acabei comprando o CD, anunciado por elas enquanto descem os créditos. Boa aquisição: o primeiro é, praticamente, o próprio filme, sem imagens; já o segundo, traz releituras do repertório cantado por elas.

Transcrevo, a seguir, o texto de apresentação dos cds, escrito por Braulio Tavares:

A música é para o que nasce

Nasci e fui criado em Campina Grande, e as três ceguinhas que cantavam coco fizeram parte da minha paisagem durante a vida inteira, com seu trinado de vozes e seus ganzás, desgrenhadas como as feiticeiras de MacBeth, mas nunca ameaçadoras. Vozes tristes, maltratadas, mas com aquela pungência de quem não tem mais o que perder e qualquer coisa que ganhar é lucro.

O encontro das irmãs com Roberto Berliner, que resultou em filme e CD, é, para alguns, uma prova de que a nossa vida é regida pelo Acaso. Mas, quando Lia procura explicar a atitude das três diante da vida, produz a frase que acabou se tornando o título do filme, e que exprime a dificuldade em conciliar o sonho individual e a predestinação coletiva. Cada um nasce para preencher um destino que o espera. Tudo indica conformismo, resignação, e o fatalismo “maktub” de uma cultura que crê no Livro do Destino. Os que em vez de Acaso acreditam no Destino vêem justamente nesta alta improbabilidade uma prova de que aquele encontro “tinha de acontecer”, “estava escrito”.

O Som da Rua buscado por Roberto Berliner é este murmúrio constante que escutamos nas esquinas de qualquer cidade brasileira. Pessoas que cantam canções, que improvisam versos, que recitam, que tocam instrumentos toscos na calçada, com microfones primitivos presos ao pescoço, e amplificadores de segunda mão equilibrados em cima de um tamborete.

Por um lado, é a continuação de uma atividade típica de uma época sem rádio e TV, na qual só existia um tipo de música: a música ao vivo. Por outro lado, o rádio e a TV acabaram preenchendo com sua música incessante o dia-a-dia destas pessoas, multiplicando muitas vezes seu repertório, imprimindo em sua memória os sucessos passageiros e os clássicos que nunca deixam de ser tocados.

segunda-feira, 18 de julho de 2005

É sempre mais do mesmo?


Bruno Ganz ou o próprio Hitler?

Confesso que não agüento mais ver filmes sobre a Segunda Guerra Mundial. Não tenho a mínima paciência para assistir a cenas de judeus sofrendo em campos de concentração, nazistas desalmados queimando livros em praça pública, nem nada parecido. Sinceramente, por mais importante que seja o debate, acho que o assunto já esgotou. Ainda mais no que diz respeito ao cinema, que acaba por tornar banal uma série de atrocidades. E a gente vai se anestesiando, de tanto ver aquelas mesmas imagens... Por isso, evito ver filmes que tratem desse tema. Não consigo deixar de achar que será um tanto repetitivo.

Entretanto, havia tempos que não encontrava minha prima, que estava doida para ver “A queda! As últimas horas de Hitler”. O tipo de filme que nem passava pela minha cabeça ir ao cinema para assistir, por mais que meu namorado dissesse que o ator era muito bom e que devia ser interessante. Mas como a Aninha e o Fábio queriam ir e convidaram a gente, cedi. Por ser mais aconchegante e acessível a todos, escolhemos o Estação Paissandu, no Flamengo.

Boa pedida. O cinema continua confortável, apesar de precisar de algumas reformas... E o filme... Bem, o filme é muito bom! Há quem o critique dizendo que há uma exagerada “humanização” da figura de Hitler. Mas é justamente esse o maior mérito do filme! Não há excesso algum: a caracterização de Bruno Ganz como o ditador nazista é impecável. Além de bastante convincente no papel, ele ainda conseguiu ficar fisicamente parecido com Hitler. Acrescente-se ainda a boa reconstituição histórica e temos um bom filme. Talvez tanto quanto alguns dos meus preferidos, como: “O grande ditador” ou “A lista de Schindler”.

sábado, 2 de julho de 2005

Para quem gosta de Woody Allen...


Radha Mitchell, em dupla interpretação

Há dias, diria até semanas, estou para escrever sobre “Melinda e Melinda”, o filme do Woody Allen que está em cartaz nos cinemas. (Pensei em dizer “o novo filme”, mas acho que este não é o adjetivo mais apropriado, em se tratando de Woody Allen... Não lembro onde, mas li certa vez uma crítica que abordava justamente o fato de que os filmes deste diretor demoravam demais para estrear por aqui. E que isso, geralmente, só acontecia quando ele já estava envolvido em outro projeto. Ou seja, até que ponto um filme de 2004 ainda pode ser chamado de: novo? Novidade é sinônimo de ineditismo?) O chato de escrever tanto tempo depois é que é preciso um certo esforço de memória para lembrar de detalhes etc. Por outro lado, no entanto, creio que fica a essência do filme: se ele não deixou marcas é porque não valia mesmo a pena ser comentado.

Woody Allen é um diretor cujos filmes nem sempre me agradam, mas, ainda assim, não posso deixar de conferir. A “culpada” disso é minha amiga Rosana (que duvido muito que saiba da existência deste blog), pois foi ela quem me fez perceber o quanto um filme do Woody Allen pode ser divertido e, às vezes, até genial. Não saberia dizer qual o primeiro filme dele a que assisti, nem poderia fazer uma lista com os meus preferidos. Nesta, certamente, incluiria “Poucas e Boas” (Sweet and Lowdown). O filme, preto-e-branco, é um falso documentário que conta a história de um fictício músico de jazz: Emmet Ray, que teria sido muito famoso, mas caiu no ostracismo e, por isso, nunca mais se ouviu falar nele. Para tornar a história verossímil, Woody Allen recheia a narrativa com depoimentos de pessoas realmente ligadas ao jazz e capricha na trilha sonora. Para quem não viu, fica a sugestão.

Mas, voltemos ao “Melinda e Melinda”. Antes de mais nada, devo dizer que adorei o argumento do filme: a discussão sobre tragédia x comédia. O filme começa com uma conversa entre amigos, que tentam determinar se a natureza humana é trágica ou cômica. Um amigo conta uma história, cuja personagem principal é Melinda, e lança a questão: trata-se de uma tragédia ou de uma comédia. No grupo, há dois autores teatrais, cada qual com sua preferência. E, para defender seus pontos de vista, eles começam a contar a mesma história, inserindo elementos de um e de outro gênero. Surgem, então, duas Melindas: a trágica e a cômica. Ambas interpretadas pela mesma atriz: a australiana Radha Mitchel (muito bem nos dois papéis). Destaque, ainda, para a atuação de Will Ferrell, no papel de neurótico (que caberia ao próprio Woody Allen).

Tentando resgatar minhas impressões sobre o filme, lembro que saí do cinema gostando mais da história trágica. Mas, no dia seguinte, já tinha dúvidas e a Melinda cômica me parecia mais interessante. Depois, aí é que não sei mesmo... No fundo, a questão vai além de uma simples preferência pessoal, porque qualquer tentativa de dividir o mundo de forma binária tende ao fracasso. A tragédia é, também, comédia. E vice-versa. Aliás, isso fica nítido na própria narrativa de Woody Allen... E, além do mais, gostar de uma não implica em não gostar da outra. O mundo é dialético, ora!

sábado, 11 de junho de 2005

“Terra em Transe”: filmografia básica



Tomei coragem e fui ao cinema (o novíssimo Arteplex) para assistir ao “Terra em Transe” (1967), do Glauber Rocha. Tive medo de dormir durante a sessão, sei lá. Afinal, minha primeira experiência com esse filme foi pra lá de péssima: em vídeo (dessas coleções que a gente compra nas bancas). Não entendi nada! O som era péssimo e a imagem parecia meio desbotada. Eu era muito nova e a única coisa que já tinha visto do Glauber Rocha tinha sido “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (e no cinema!). Na minha ânsia de ver outros filmes dirigidos por ele, acabei apelando para o vídeo. Claro que não deu certo.

Amei o filme. E a temática ainda é de uma atualidade angustiante: esse é um filme a que todo estudante de Jornalismo deveria assistir. Faz parte da “filmografia obrigatória”, por assim dizer. Além disso, fizeram um bom trabalho de restauração: a cópia que está em cartaz é excelente. A gente consegue entender os diálogos, acompanhar a história... E nem de longe lembra aquela coisa desbotada a que assisti tempos atrás. Fiquei surpresa com a atuação de Glauce Rocha e me diverti tentando descobri rostos conhecidos, como Hugo Carvana e Paulo Autran (todos tão jovens...). No entanto, confesso: continuo achando os monólogos do poeta/jornalista Paulo Martins (Jardel Filho) longos demais e chatos. Mas são indispensáveis...

Engraçado. Sempre que ouço falar em Cinema Novo, me vem à cabeça um único nome: Glauber Rocha. Tenho a impressão de que Glauber e o Cinema Novo são uma coisa só. Para mim, ele é personificação máxima da idéia de que, para fazer filmes, basta apenas “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”. Gostaria de entender melhor esse momento do cinema nacional e esse é um sentimento que me persegue desde o dia em que fui, com a galera do colégio, assistir a uma cópia restaurada de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964) no Estação Botafogo. Foi uma experiência que me marcou para toda a vida: fiquei fascinada pela beleza da Yoná Magalhães (quem diria...) e petrificada com a intensidade da atuação de Othon Bastos, como Corisco. Tanto que, vez por outra, me pego cantarolando: “Se entrega Corisco... Eu não me entrego não...” e o vejo girando... “E o sertão vai virar mar...”

Mas, naquela época, ter acesso a esse tipo de informação ainda era uma tarefa difícil: a internet ainda engatinhava e a tecnologia de um modo geral não era lá essas coisas. Eu não tinha dinheiro para comprar livros, cds e demais bens culturais de consumo. Aliás, nem havia tantas opções de livros como hoje em dia e o pouco que existia era caríssimo! Coisa de colecionador mesmo, para poucos... Por sorte, tive a oportunidade de assistir, no cinema (dessa vez, no Espaço Unibanco), a mais um filme restaurado: “Vidas Secas", de Nelson Pereira dos Santos. Foi paixão à primeira vista! Trata-se de um filme irretocável, desses que – se fosse possível – a gente emoldurava e pendurava na parede. Por isso, posso dizer, sem medo de soar ridícula, que a morte da cadela Baleia foi uma das cenas mais tristes a que já assisti na telona (pau a pau com a da morte da mãe do Bambi). E eu, já estudante de Letras, fiz as pazes com o Graciliano Ramos que me atormentava com seu “São Bernardo” no tempo do colégio. (Aliás, esse eu li, reli e recomendo. Só não consigo terminar de ler, justamente, o “Vidas Secas”, porque achei o final do filme tão perfeito que tive medo de estragar. Interrompi a leitura no penúltimo capítulo.)

sexta-feira, 10 de junho de 2005

E a casa é mesmo de areia!

Dando prosseguimento à minha dieta cinematográfica, fui conferir o filme “Casa de Areia”, lá no Espaço Unibanco, em Botafogo. Era um domingo chuvoso e aproveitei uma carona. Afinal, agora o metrô carioca funciona de segunda a segunda, né!? Que nada, dei de cara na porta... E até hoje não descobri o motivo. Voltei de ônibus.



Mas, voltando ao filme, devo esclarecer que não me enquadro no perfil de fã incondicional de Fernandas (com exceção da Fê, minha amiga cada vez mais alemã). Desconfio sempre dessas unanimidades que vêm estampadas nas páginas dos jornais e revistas. Hoje, Fernanda Montenegro é vista como o modelo de atriz brasileira, a “grande dama”, a melhor entre as melhores, essas bobagens. Não nego que seja excelente, mas trata-se de uma personalidade tão intocável que, às vezes, a gente fica sem saber se as personagens que interpreta não são uma só: ela mesma. Sua filha, Fernanda Torres, segue pelo mesmo caminho e, em sua interpretação, parece ter incorporado para sempre certos trejeitos da Vani (de “Os Normais”).

Pois bem, “armada” desse jeito, fui assistir ao tão falado “Casa de Areia”. E fui conquistada pela aridez da narrativa (tanto no cenário, quanto nos diálogos), digna de um Graciliano Ramos. Quanta areia! E que silêncio. Só faltava a
cadela Baleia correndo por entre as dunas dos lençóis maranhenses. É, não teve jeito, nos primeiros minutos do filme não conseguia parar de pensar no “Vidas Secas”, transposto para a telona por Nelson Pereira dos Santos. Se fosse em preto-e-branco, então... Mas não foi por isso que saí do cinema em quase estado de choque! Sim, porque foi assim que eu me senti ao fim da projeção: sem chão.

Sem dúvida, para mim, o protagonista do filme não é intepretado por nenhuma das duas atrizes. E muito menos por Seu Jorge ou Luís Melodia. O personagem principal é o próprio cenário. Afinal, a areia parece ter vida própria e exerce um poder imenso sobre a vida dos que habitam ali. Entretanto, revejo meus (pre)conceitos: tiro o chapéu e jogo flores aos pés de Fernanda Montenegro. A mulher é um espetáculo! Ela e a filha interpretam várias gerações de uma mesma família e desempenham seus papéis com perfeição. Ainda acho a Fernanda Torres um tanto careteira, talvez um pouco exagerada... Mas a mãe... Caramba, o que é aquilo? Depois de passar pela juventude histérica (na pele da Fernanda filha), cada geração assume e delimita sua própria personalidade – amadurece mesmo – na pele da Fernanda mãe. E isso faz com que cada mulher interpretada por ela, no filme, seja única.

quinta-feira, 2 de junho de 2005

E as legendas não me deixam em paz...


O escritor João Ubaldo Ribeiro,
em Língua - Vidas em Português


No post anterior, escrevi sobre o incômodo que me causa a legendagem em filmes – geralmente, nos portugueses, mas também em documentários brasileiros que misturam os diversos falares, como “Janela da Alma” e “Língua – Vidas em Português” – e gostaria de voltar ao assunto. Sei que corro o risco de soar repetitiva e talvez os poucos leitores que tenho já não agüentem mais minhas reclamações a respeito. Entretanto, penso que ainda há algo a ser dito e espero conseguir me fazer entender.

O que me faz retomar este tema é o seguinte: estamos viciados em legendas. A maior parte da produção cinematográfica a que temos acesso é estrangeira e, principalmente, norte-americana. Achamos naturalíssimo ouvir o inglês e, tempos atrás, dada a baixa qualidade técnica dos filmes nacionais, muitos torciam o nariz para as produções brasileiras. O som era péssimo, quase inaudível, o que tornava o filme por vezes incompreensível. Lembro de um filme com o Evandro Mesquita (e do qual já nem lembro o título) em que, durante a exibição, tive ímpetos de levantar e ir embora. Não entendia nada do que ele dizia! Tá bom, alguns vão dizer que a dicção do Evandro Mesquita não é das melhores, mas não vamos exagerar! Aquele filme bem que merecia umas legendas...

Entretanto, mesmo hoje, com toda a melhoria técnica, recentemente tive problemas em entender o que era dito em um filme brasileiro: “Copacabana”. Tentava assisti-lo em dvd, mas o som era péssimo! Então, pensei em apelar para as legendas. Procurei no menu e só encontrei duas opções: inglês e espanhol. Acontece que um dos argumentos a favor das legendas é que elas permitem que deficientes auditivos compreendam o filme. Ora, nesse caso, só se forem poliglotas.

Aliás, esse papo de que as legendas ampliam o alcance dos filmes é uma tremenda mentira. Ainda mais em um país como o Brasil, onde a maior parte da população é analfabeta e sequer tem dinheiro para ir ao cinema. Se fosse por uma questão de clareza, todos os filmes estrangeiros deveriam ser dublados, então. É assim nos Estados Unidos, país ao qual parecemos seguir e obedecer cegamente... Entretanto, por motivos bastante diversos. Lá, a opção pela dublagem se dá, em parte, pela falta de costume de se ouvir qualquer coisa diferente do inglês. É algo meio "bairrista" mesmo. Mas será que eles dublam os filmes escoceses, australianos, irlandeses, ingleses...?

Já aqui, a opção pelas legendas parece vir da idéia de que estas interferem menos na obra. E nisso eu concordo. É notório que toda tradução é uma reinvenção do original. Não importa se na literatura, ou no cinema. Então, as legendas permitem que o espectador acompanhe as inflexões de voz dos atores, entre outras sutilezas. Por outro lado, fica claro o quanto somos uns colonizados. O inglês é nossa segunda língua e, mesmo quem não entende patavina, gosta de dizer que o som original é melhor etc. Mas, e nos filmes falados em português? Qual a justificativa para as legendas? E, admitindo que estas sejam necessárias, por que não transcrever – palavra por palavra – o que é dito no filme? Isso, realmente, parece que continuarei sem entender...

quarta-feira, 1 de junho de 2005

Legendas em filmes portugueses:

clareza ou intolerância?



Maria de Medeiros, em
"Capitães de Abril"


Desde que me admiti cinéfila e voltei a freqüentar as salas de exibição (sempre sem as pipocas, é bom ressaltar!), venho escrevendo sobre cinema. Meus últimos dois posts eram bastante específicos e abordavam basicamente o cinema português. Ao sair da sessão de "Um filme falado", no Arteplex, me peguei tentando lembrar que outro filme realizado por Manoel de Oliveira eu havia visto no cinema. E, mesmo tendo acesso a toda a filmografia dele, não consegui lembrar! Mas sei que já assisti a algo, o que terá sido? Passei, então, a tentar resgatar na memória outros filmes portugueses...

O resultado: com exceção do tal "Mortinho por chegar a casa" (ao qual me referi no post anterior), só lembrei de "Capitães de Abril", realizado pela também atriz Maria de Medeiros. Trata-se de um bom filme, através do qual podemos conhecer um pouco do contexto em que se deu a famosa Revolução dos Cravos, que pôs fim a um perído ditatorial que teve início com Salazar. O tema, abordado de forma poética, é de fácil assimilação pelo espectador brasileiro. Afinal, de ditaduras nosso povo entende bem. Embora, infelizmente, de revoluções nem tanto... Mas, assistindo ao filme, percebemos que tampouco os portugueses! Aos poucos, percebemos o quanto somos parecidos, ao mesmo tempo em que somos diferentes.

Já que falei em diferença, há algo que me incomoda muitíssimo ao assistir a filmes portugueses no cinema: as legendas. Elas me confundem demais! Entendo que elas sejam necessárias, afinal, o brasileiro não está acostumado à diversidade de falares de sua própria língua. Nossos sotaques regionais, muitas vezes, são motivo de riso e logo viram piada. O eixo Rio-São Paulo impõe, pouco a pouco, uma modalidade padrão (carioca?) que faz com que os locutores de rádio e apresentadores de TV utilizem, todos, um falar uniforme. Penso que, se não conseguimos respeitar e compreender nossas diferenças locais, imagine então quando estas vêm de além-mar!

Entretanto, como exigir do brasileiro que entenda seu próprio idioma quando falado em Portugal e nas antigas colônias, como o Timor, Moçambique ou Cabo Verde? Por vezes, nem parece a mesma língua! Tudo culpa do isolamento em que nos mantivemos por tanto tempo e para o qual contribuíram as ditaduras, de lá e de cá, em que estivemos mergulhados por anos. Formou-se uma barreira cultural e, para transpô-la, só se investirmos em eventos que promovam o intercâmbio, a integração... Mas eu não tive notícias de uma nova edição do Encontro com Portugal ao qual já me referi em outro post. Alguém teve?

Além do mais, sinceramente, tenho minhas dúvidas se as tais legendas ajudam. Afinal, com a desculpa de tornar o filme compreensível para todos, elas acabam por “abrasileirar” os diálogos. Então, o que se lê não é o mesmo que se ouve. E isso, para mim, é uma tremenda falta de respeito... Respondendo à pergunta do título: intolerância pura.

terça-feira, 31 de maio de 2005

Minha relação com o cinema português



Desde que assisti ao último filme do Manoel de Oliveira, sobre o qual comentei no post anterior, venho tentando descobrir um jeito de manter-me a par da produção cinematográfica de além-mar. Tarefa difícil. A internet ajuda, no sentido de encontrar as fichas técnicas e demais informações, porém não faço idéia de como assistir aos filmes propriamente ditos. Então, só me resta esperar pela boa vontade dos programadores das salas e aguardar novas oportunidades.

Sempre me interessei pela cultura portuguesa. Sou curiosa por natureza. Mas admito que sofro de uma curiosidade quase doentia a respeito de tudo o que se refere às culturas que deram origem ao que chamamos cultura brasileira, na qual estou mergulhada. Entretanto, o que busco não é o que está nos livros de História. Tenho sede de troca, de intercâmbio. Daí a vontade de conhecer um pouco do que se faz, hoje, na "terrinha" e, também, nas ex-colônias. O pouco que conheço desse mundo lusófono extra-brasileiro, devo à minha formação em Letras, que me proporcionou o contato com autores como o português Saramago, o angolano Pepetela, a descoberta de uma língua galega e, já na pós-graduação, uma visão do Timor Leste.

Entretanto, meu primeiro contato com o cinema português só veio a acontecer em 98 (no Encontro com Portugal, ocorrido em Niterói), quando pude ver de perto várias vertentes da cultura portuguesa contemporânea. Naquela época, ainda estudante de Letras, lembro da sensação de descobrir um mundo todo novo, falado em português. Até então, meu contato com a produção cultural lusitana só tinha se dado através dos livros. Ouvir os sotaques na rua era delicioso! E o show do Madredeus na praia de Icaraí foi algo memorável...

Mas, voltando aos filmes... Infelizmente, já não lembro de quase nada, à exceção de um título, porque me fez rir na época. Ainda hoje acho graça. Chamava-se: “Mortinho por chegar a casa”. Não é ótimo? Trata-se de uma produção Portugal/Holanda de 96, realizada por Carlos Silva e George Sluizer. Não lembro dos detalhes, mas conta a história de um sujeito que morre no estrangeiro e vai assombrar a irmã para que ela o enterre em Portugal. E o filme é isso: uma comédia em que a mulher, sempre acompanhada pelo impaciente fantasma do irmão, tenta levar o corpo deste para ser enterrado na terra natal. Muito divertido, mas só quem pôde acompanhar a programação do evento, em Niterói, conseguiu assistir. Nunca mais ouvi falar.

segunda-feira, 30 de maio de 2005

E eu cumpri a promessa: fui ao cinema!



Como disse no no post anterior: decidi voltar a freqüentar cinemas. Sem pipoca, é claro (que senão engorda!). E, para isso, aproveitei a inauguração do Unibanco Arteplex, que fica pertinho da minha faculdade. Consultei a programação e lá fui eu, pretextando apenas conhecer o espaço. Era o primeiro dia aberto ao público, o saguão fervilhava de gente. A livraria, encantadora, estava abarrotada. Os vendedores pareciam assustados com tanto movimento e um deles chegou a me confessar que foram "pegos de surpresa". Parece que a loja abriu sem que eles estivessem prontos, não entendi bem o motivo.

Não resisti. Matei aula, consciente (e até com algum orgulho) para assistir a “Um filme falado”, de Manoel de Oliveira. Fantástico! Uma mulher e sua filha pequena partem num cruzeiro que atravessa o Mediterrâneo com destino é Bombaim, onde devem encontrar o marido/pai das duas. Rosa Maria (Leonor Silveira, linda!), a mãe, é professora de História da Universidade de Lisboa e vai mostrando à filha, a cada parada, o significado histórico dos locais que visitam. Aos poucos, a própria História da civilização ocidental vai sendo contada, da sua origem até os dias de hoje. E, através das perguntas desconcertantes - típicas da infância - feitas pela filha, Maria Joana (Filipa de Almeida, uma fofa...), a mãe se vê obrigada a tratar de assuntos por vezes delicados.

No navio em que viajam, o comandante (John Malkovich), americano de origem polaca, reúne em sua mesa de jantar três belas mulheres. Uma atriz e cantora grega (Irene Papas), uma ex-modelo italiana (Stepania Sandrelli) e uma bem-sucedida empresária francesa (Catherine Deneuve). Cada participante da mesa fala em sua própria língua e é entendido pelos demais, como numa Torre de Babel às avessas... Uma síntese do ideal que se propõe para a Comunidade Européia. Entretanto, o sentimento de "marginalidade" de Portugal em relação à Europa é nítido. Ao mesmo tempo em que louva uma visão eurocêntica de civilização, é justamente a língua portuguesa que não é compreendida pelos demais. A presença da professora à mesa do comandante faz com que todos recorram ao inglês, com seu status de língua ocidental. O fim, então, é emblemático! O filme é de uma simbologia fascinante e, embora o tom didático (da mãe que explica tudo, pacientemente, à filha) da narrativa incomode um pouco no princípio, vale a pena assistir. E debater a respeito.

domingo, 29 de maio de 2005

Do porquê tornei-me cinéfila


Dieta Cinematográfica

Decidi voltar a freqüentar cinemas. Há tempos esta não é minha principal opção de lazer. Acho os ingressos muito caros, as salas cheias e frias demais, a qualidade geral dos filmes me parece sofrível e, com o fim dos cinemas de rua (especialmente os da Tijuca, perto de casa), perdi o tesão. Detesto shoppings centers e é lá onde estão a maior parte dos cinemas, hoje em dia.

Entretanto, minha decisão ultrapassa essa questão. Estou disposta a freqüentar as salas de projeção independente de onde estejam. É claro que pretendo priorizar os bons e velhos (ou novos, como Arteplex!) cinemas de rua. Aliás, lamento muito que o Grupo Estação não tenha aberto um cinema na Tijuca, mas isso também é uma outra história... Como dizia, minha decisão de voltar à condição de cinéfila não tem nada a ver com isso. O verdadeiro motivo, embora possa parecer fútil a alguns, é o seguinte: voltei a fazer dieta.

Ora, raciocine comigo, eu adoro um boteco. Petiscos, cerveja gelada, uma boa conversa com amigos... É disso que eu gosto! Se tiver uma boa roda de samba ou de choro, então, encontrei o cenário perfeito. Em casa, gosto de ler. De escrever, também. E de ouvir música... Mas, voltando ao boteco, é o tipo de programa que devo evitar por uns meses. Pelo menos, se quiser levar a sério essa história de dieta. É calórico demais! E, por mais que me convença de que posso ficar só na coca light, francamente... Não é a mesma coisa. Portanto, ao cinema!

sábado, 28 de maio de 2005

Sobre os amigos...

E em defesa da patiologia!


Eu e meus amigos, Fárida e Rodrigo
(18 setembro de 2004)

Trabalhar e estudar é uma rotina bastante cansativa. Imagino quantos, como eu, cumprem essa dupla (quando não, tripla...) jornada. O sujeito passa o dia inteiro no trabalho – em geral, as 8h de praxe – e aproveita seu tempo livre para estudar. Há aqueles que têm casa e família para cuidar. E outros que ainda conseguem reservar um horário para a prática de exercícios físicos. Isso para não falar de algo comum a todos: a manutenção do que chamamos vida social, indispensável. Não é para qualquer um.

É claro que ninguém dá conta de tudo isso simultaneamente. Um dia, é o trabalho que vence. No outro, a faculdade ganha destaque. O mesmo acontece com a casa, a família, o barzinho, o cinema no fim-de-semana... É mais ou menos como na música do Chico Buarque: "a gente vai levando". Ou, ainda não havia pensado nisso, vai ver a tal campanha do governo faz algum sentido, afinal, porque "a gente é brasileiro e não desiste nunca". Será!?

Confesso que sinto prazer em estudar. Quando me perguntam por que desejo um novo diploma, sou capaz de enumerar uma série de motivos. Mas, logo em seguida, acho todos superficiais e chego a pensar que não justificam nada: assistir às aulas pode ser muito interessante, mas não é assim tão fundamental. O mesmo com relação às leituras pedidas, pois o que torna um curso proveitoso são as trocas que ele proporciona. E estas não podem ficar restritas à transmissão de conhecimento unilateral que se dá entre professor e aluno! Uma relação ensino-aprendizagem saudável se dá através de questionamentos, debates. Inclusive, informalmente, entre os próprios estudantes, longe da figura do professor.

Penso que uma boa faculdade não se faz só em sala de aula, é preciso ir além. No caso da Facha, que é onde eu estudo, são componentes curriculares importantíssimos: o pátio (daí a patiologia do subtítulo), os corredores, o Leo, a Farani... A faculdade é, para mim, o espaço onde me reciclo, aprofundo amizades e faço novos amigos. É por isso que me despenco de Niterói, todas as noites, até Botafogo. Graças à Facha, conheci o Rodrigo, a Fárida, a Isabela, o Rafael e tantos outros. São eles que me fazem companhia e tornam divertidos os intervalos entre as aulas. Além disso, a volta para casa, certamente, seria bastante penosa sem os meus amigos tijucanos. Que a marajó velha de guerra segure o tranco!

quarta-feira, 25 de maio de 2005

Somos uns acomodados...

Desde cedo, chovia sobre o Rio de Janeiro. Domingo perdido, de poucas opções de lazer. Passei o dia em casa, estudando. Uma chatice o trabalho de psicologia pedido pelo meu professor... Puro tédio. Aproveitei para arrumar umas gavetas e prateleiras, apenas. Mas, como sempre, fiquei com a sensação de que não consegui organizar nada. Decididamente, faxina não é o meu forte.

Já era noite quando lembrei de abastecer o carro. Dirijo uma marajó movida a gás e já estava na reserva. No dia seguinte, não teria tempo de parar no posto antes de ir para o trabalho... Não tinha jeito, teria de enfrentar a chuva. Preguiça, preguiça, muita preguiça. Mas tomei coragem, peguei o carro e lá fui eu para São Cristóvão. Desde que fiz a conversão para o GNV, abasteço naquele posto BR que tem na Quinta da Boa Vista. Bom serviço e preço em conta.

Gosto de São Cristóvão. É um bairro que ainda guarda ares de nobreza, da época do Brasil Império. É arborizado e fica perto do Centro. Tem tudo para ser um bairro agradável, não fosse o completo abandono em que se encontra. A começar pela parte histórica. É notório que o Museu Imperial, por exemplo, há anos, sofre com a má conservação. E o mesmo acontece com todo o resto: o Zoológico, a própria Quinta, o Museu de Astronomia, a Casa da Marquesa de Santos... Enfim, a cada dia é um pedaço de História que se perde.

Além disso, é triste ver tanta sujeira pelas ruas mal iluminadas. E dói, também, ver as prostitutas que circulam pelas imediações da Quinta... Sob a garoa que caía naquele domingo, eu a vi. Ela era gorda e estava ali, bem perto do posto. Sua roupa, cheia de paetês e lantejoulas, chamava a atenção. Usava maquiagem forte e o cabelo solto, no melhor estilo femme fatale. Mas a rua estava vazia e, de repente, me dei conta de que, dificilmente, ela conseguiria clientes naquela noite. Já não era bonita... Continuei a observá-la e vi que espirrava. Pegou um lenço na bolsa, assoou o nariz. Foi então que ela olhou em minha direção e pude ver seu rosto de frente. Não senti pena, mas um misto de solidariedade e admiração. Literalmente, uma puta guerreira!

terça-feira, 24 de maio de 2005

Se é assim, que venha o próximo 23 de abril

Nem parece a mesma rua. O cheiro de cocô de cachorro, misturado ao do esgoto que vaza dos bueiros, entope as narinas e causa náuseas. Em dias de chuva forte, a situação é ainda pior, porque a rua enche e obriga os pedestres a andar com a água pelos tornozelos. Difícil acreditar que esta é a mesma rua que se enfeita, todos os anos, para a festa de São Jorge, quando predomina o cheiro adocicado da cocada feita na hora. Esse é o descaso em que se encontra a rua dr. Alcides Figueiredo, em Niterói, pelo resto do ano.

Passada a festa, a vida segue seu curso normal. É de manhã. As crianças vão para a escolinha. As donas de casa varrem as calçadas, jogando água aos pés de quem passa. O botequim da esquina recebe seus primeiros fregueses, que bebem e jogam totó ou bilhar. Na outra extremidade da rua, as lojas de automóveis abrem suas portas e começam a ocupar as calçadas com os carros à venda. O culto da igreja evangélica começa com sua cantoria, enquanto não há nem sinal de movimento na igreja de São Jorge. Os mais inquietos são os flanelinhas, que caminham de um lado para o outro, à espera de alguém que queira estacionar por ali.

Os pedestres, sonolentos, seguem – em sua maioria – para o trabalho e nem notam que a vida fervilha ao seu redor. Não vêem a árvore florida que lhes dá passagem, caindo em arco sobre o muro. Também não ligam para os gatos gordos que tomam seu banho de sol matinal e que, alheios a tudo, se espreguiçam com vontade. Não sei se por sono ou se é porque, simplesmente, não podem prestar atenção a nada disso. Afinal, quem anda por aquelas calçadas precisa ter os olhos bem atentos ao chão, tendo o cuidado de ver onde pisa. Além disso, o cheiro nauseabundo de hoje faz com que a gente prenda a respiração e apresse o passo, torcendo para virar logo a esquina. Difícil despertar assim.

segunda-feira, 23 de maio de 2005

Por um dia de sol que ilumine a baía

Inspirada pelos comentários da galera que lê o Conexão Irajá, passei a semana sonhando com uma ida ao Mercado de Peixes São Pedro (Niterói) no fim-de-semana. Há anos, ouço contarem de como é maravilhoso escolher, fresquinho, o peixe que se deseja comer e vê-lo ser preparado lá mesmo, na hora. Tudo isso acompanhado de um bom papo e uma cerveja estupidamente gelada, é claro.

Entretanto, não foi dessa vez que consegui realizar meu desejo de conhecer o famoso mercado. Como todos os fins-de-semana de maio, o último foi repleto de comemorações de aniversário. Foram três ao todo. E, no sábado à noite, já nem lembrava mais do tal mercado. Além do mais, o tempo esfriou e pensei ser melhor aguardar um belo dia de sol. Já estava conformada.

Na manhã de domingo, enrolada nas cobertas, aproveitava o friozinho para ler o 1984 (aquele mesmo, do George Orwell), recém-comprado. Como disse, não pensava mais no assunto. O telefone tocou e, na medida do possível, corri (isso é força de expressão!) para atender. Era meu amigo Reinaldo, com quem não falo há séculos. Mal respondeu ao meu alô, o Rei já largou a pergunta:

— E então, Bia, quer ir ao Mercado dos Peixes de Niterói?

Fiquei verdadeiramente surpresa, porém não pude aceitar. No entanto, fiz com que ele me prometesse que iria comigo em um outro fim-de-semana. Que venha o sol...

quinta-feira, 19 de maio de 2005

Sob protesto!

Os metalúrgicos de ontem, hoje são mais numerosos. Fecharam a rua. O carro de som desfila pelo Centro de Niterói, comunicando suas exigências. Por isso, achei cabível copiar o arremedo de poema que segue abaixo. Mais uma vez, peço perdão a quem já o conhece...

Segunda-feira.
O sol brilha e anuncia
um belo dia:
quente, efervescente,
de suar em bicas.

Os trabalhadores
despertos
sequer olham o céu
e rumam cinzentos,
idênticos e apáticos,
como sempre.

Caminham
no mesmo ritmo,
contando as horas
que os separam
da liberdade lá fora.

Ao fim da jornada,
exaustos,
o sol há muito já era.
Resta apenas a lua,
a noite,
a espera.

Passa a terça,
a quarta, a quinta...
E só quando vier
a sexta-feira,
o trabalhador olhará
para o céu do amanhã
de outra maneira.

***

Uma homenagem a todos
os trabalhadores brasileiros
e do mundo inteiro
que, como eu,
mal podem esperar
para viver intensamente
mais um sábado
e um domingo.

***

Deixei de ser gente,
passei a ser coisa.
Sou gado marcado
a ferro e a fogo
por meu patrão.

Não sou indiví­duo,
não tenho vontade,
sou funcionária,
uso uniforme
e bato o cartão.

Exijo respeito,
mas de que jeito?
Sou operária,
sou nada,
sou máquina.

(30 de abril de 2004)

Publicado no Multiply, em 29 de outubro de 2004.

quarta-feira, 18 de maio de 2005

Trabalhadores em greve, sempre que preciso!

Fico emocionada sempre que vejo trabalhadores reunidos em torno de um carro de som. Há dias, a caminho do trabalho, passo pela porta de um sindicato e percebo uma movimentação diferente. O carro de som chega, estaciona de modo a não bloquear a passagem dos carros e, pouco a pouco, mais e mais trabalhadores aparecem, como que por geração espontânea. A cada dia que passa tem sido mais difícil me desvencilhar de tanta gente. As calçadas ficam abarrotadas.

Pela primeira vez, vi alguém falando lá de cima. Geralmente, passo mais cedo, e só vejo a movimentação inicial. Dessa vez, pude ver as pessoas atentas ao que é dito ao microfone. No momento em que eu passava, faziam uma comparação entre os dias de hoje e a ditadura. Pelo que entendi, algo a ver com uma manifestação nos estaleiros de Niterói duramente reprimida pela polícia. Tal como ocorria nos “anos de chumbo”, utilizando as mesmas táticas de repressão. Algo injustificável, ainda mais nos dias de hoje, já que a greve é um direito dos trabalhadores. Direito conquistado com muita luta e muito sangue, mas que não é respeitado pelos patrões e, menos ainda, pela polícia.

Minha vontade foi parar ali no meio da massa para tentar compreender melhor, mas eu já estava atrasada. Gostei do pouco que ouvi, me pareceu uma fala bastante lúcida. Entretanto, não sei se pelo horário matutino, achei as pessoas quietas demais. Já entrando no prédio, o microfone mudou de mãos. Uma voz preocupada disse, então, com a concordância que caracteriza a modalidade popular de nossa língua: “A gente temos um problema, parece que a gente ainda não conseguimos uma resposta...” Peguei o elevador, feliz por saber que o povo ainda não abriu mão de falar. Subi, ouvindo os ecos dos trabalhadores na rua. Espero vê-los, quando sair. Que eles ainda estejam lá e eu os encontre mais descontraídos, como tem sido todas as noites. Sentados pelas calçadas, conversando e ouvindo as músicas que saem do carro de som. Simplesmente isso: ostensivamente existindo para quem passa.

segunda-feira, 16 de maio de 2005

Cumplicidade Automotiva

Aos que já conhecem o texto abaixo, perdão pelo repeteco...

Dirijo um carro 89. Uma marajó verde clarinha, que minha mãe comprou zerada num consórcio. Na época, ela quase não usava carro, porque trabalhava no Centro do Rio e não tinha onde estacionar. Quando queria ir a algum lugar perto, acabava optando por usar o fusquinha (sim, nós ainda tí­nhamos um!) ou saíamos no chevette do meu pai.

A marajó, por ser um carro grande, ficava guardada na garagem. Só era usada pra irmos ao sí­tio (ou para outros passeios mais longos). E assim foi, durante muito tempo, até minha mãe se desfazer do fusca. Mas ela acabou não usando muito a marajó, pois esta já estava "velha" (a marajó, é bom frisar...). E minha mãe acabou comprando outro carro assim que pôde. A marajó continuou na garagem.

Quando tirei minha carteira, a marajó estava designada para mim. Mas eu tinha medo e só comecei a dirigir, mesmo, aos 20 anos... Mais ou menos na época em que comecei a namorar o Flávio, que não dirige. Desde então, quase não saio sem carro. Adoro a marajó. Ela é espaçosa, fácil de dirigir, tem motor 1.6, a manutenção não é nenhuma fortuna e, o melhor de tudo: funciona a gás! Desde que instalei o GNV, acabou-se o problema de consumir gasolina demais! Isso já tem bem mais de 1 ano.

O engraçado é que eu fico procurando outras marajós na rua. Acho que isso é mania de quem dirige carro velho: ficar procurando carros "gêmeos" (ou quase). Eu sempre vejo uma ou outra. Mas há anos passo por uma idêntica, na rua Haddock Lobo. Sempre que olho pra ela, acho que é a minha. E isso mesmo que eu esteja dirigindo a própria! É uma loucura...

Já tinha visto o dono outras vezes, de passagem. Mas imagino que ele nunca tinha me visto. Até hoje. Parando no sinal, vejo a marajó estacionada. Parei bem em frente e vi o motorista saindo... Fico ali, olhando, paralisada. Ele saiu, olhou pro meu carro e, por um momento, tenho a impressão de que ele passou pela mesma confusão que a visão do carro dele me causa. Ele virou o olhar para seu próprio carro em seguida, eu sorri e fui embora. O sinal tinha acabado de abrir.

quinta-feira, 12 de maio de 2005

Ler em um café do Centro

Uma tentativa de ser cosmopolita

Dia desses, aproveitando o meu horário de almoço, entrei em um café para ler. O ambiente é charmoso e bastante tranqüilo. O atendimento é simpático, o que compensa os preços um pouco salgados. Para alguém como eu, sem tempo disponível para ler por prazer, é um verdadeiro achado. Para ser melhor, só se tivesse um sofá bem confortável. Mas, na falta, serve a mesinha de madeira mesmo. O lugar chama-se Cafeteria Ignon (é um cybercafé) e fica na esquina da Visconde de Sepetiba com a São Pedro, no Centro de Niterói.

Pedi uma minitorta alemã (deliciosa!) e uma coca (light, é claro). Tomei posse da mesinha do canto, onde sentei de frente para a porta. Saquei o livro da bolsa e comecei a folheá-lo. Entre garfadas de torta, lia uma ou duas páginas. Terminei o doce, tomei o último gole de coca-cola, acabei o parágrafo e saí. Foi uma boa experiência. Não via a hora de voltar. Sempre achei o máximo do cosmopolitismo essa história de ler em cafés.

Ontem, decidi repetir o ritual. Afinal, há meses tento ler o “Vigiar e Punir”, do Foucault. Mas esse é o tipo de leitura que não permite dispersões. É preciso ter atenção, para compreender “a história da violência nas prisões” contada pelo autor. O problema é que tenho prova sobre o livro na semana que vem e gostaria de terminar a leitura... E, se possível, ler os dois livrinhos de Freud que também foram pedidos pelo meu professor de Comunicação Comparada. Maldita falta de tempo!

Entrei no café. Pedi uma minitorta (dessa vez a suíça, também deliciosa!) e minha coca light. Escolhi a mesma mesa. Sentei. Tirei o livro da bolsa e... A dona, muito simpática, veio me trazer o que pedi. Não resistiu e perguntou:

— Você é espírita?

Estranhei um pouco a pergunta, mas respondi:

— Não.

— Mas esse livro é espírita, não é? — Ela prosseguiu.

E eu, implacável, respondi apenas:

— Não.

Não sei qual o tom da minha última resposta, mas tenho medo de ter soado grosseira. Não era a intenção. O fato é que, naquele momento, além de estar em busca de paz e não querer conversar com ninguém, eu não podia imaginar que alguém não conhecesse Foucault. Sei que é um raciocínio pedante, elitista, mas não pude evitar. Assim como também não consegui parar de pensar a respeito disso. Minha leitura, então, foi bem pouco produtiva.

quarta-feira, 11 de maio de 2005

Sobre a Cartilha do Politicamente Correto

Atendendo a pedidos...

Vivemos hoje a praga do “politicamente correto”, uma autêntica ditadura. Somos constantemente monitorados com relação ao que dizer e a como agir. Não podemos ter preconceito, porque não é de “bom tom” e – pior! – podemos até ser multados por isso. Entretanto, a hipocrisia continua. Somos todos preconceituosos, lobos em pele de cordeiros.

Alcoólatras, hoje, são alcoólicos. Homossexuais batalham para ser homoafetivos. Velhos são idosos e os deficientes são portadores de necessidades especiais. Puro eufemismo. Porque as conotações que atribuímos a cada palavra partem de nós mesmos. Deixar de empregar um vocábulo em detrimento de outro, “limpo” dessa carga ideológica, não muda o que pensamos a respeito de nada. É uma questão de tempo para que a palavra eleita como “correta” passe a ter o mesmo sentido pejorativo que julgávamos ter a anterior. Por isso, uma cartilha como a do governo é fadada ao fracasso.

Para o escritor João Ubaldo Ribeiro, uma iniciativa como esta não passa de um “delírio autoritário” (leiam no Observatório da Imprensa). E ele tem razão: esta é uma camisa-de-força inútil. Nossa língua está viva e sofre constantes adaptações. Uma das melhores maneiras de se derrubar tabus é falar sobre eles. Hoje em dia, por exemplo, há uma banalização dos chamados palavrões. E nem sempre eles são empregados de maneira ofensiva! Há quem os utilize de maneira carinhosa, até. Para muitos, “porra” é vírgula e “caralho” é interjeição. “Puta”, então, é advérbio. Ora, palavras como “chato” e “legal” também representam bem essa mobilidade lingüística. Até bem pouco tempo atrás, a primeira era considerada de baixo calão e referia-se ao terrível bichinho que grudava nos pêlos pubianos. A segunda, por sua vez, dizia respeito apenas à legislação... Somos criativos ou não somos!?


P.S.: A tal cartilha desagradou a todos mesmo. O presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Ivan Junqueira, fez coro com João Ubaldo Ribeiro e aproveitou para atacar a polêmica publicação do governo na cerimônia de abertura da 12ª Bienal Internacional do Livro, no Riocentro. Leia mais no site especial da Bienal do Livro, no Globonline.

sábado, 7 de maio de 2005

Uma esquina anacrônica

No Centro de Niterói, há um camelódromo que se esparrama por várias ruas. As grandes lojas, aquelas tradicionais, já não existem mais por ali. Fecharam as portas por causa da crise... Resta ao niteroiense, então, fazer suas compras nos camelôs ou nas poucas lojas que restaram. Caso não encontre o que procura, pode recorrer ao comércio da Moreira César, em Icaraí, ou atravessar a baía em direção ao Rio.

Foi na esquina da rua Visconde de Uruguai com a Coronel Gomes Machado que eu os vi. Não tive como não notá-los, pois o contraste era imenso. Em meio a toda aquela parafernália moderna e multicolorida que se vende nas barracas dos camelôs, estava um casal de velhos. De porte elegante, vestiam roupas de passeio surradas. Ele, um terno marrom que há muito perdera a validade e um chapéu. Ela, saia preta e blusa de babados rosa, bastante desbotada. Não deviam ter muitas opções no guarda-roupa.

Era meu horário de almoço e eu passei apressada. Além das roupas, notei que ele trazia um enorme guarda-chuva em uma das mãos. Ela estava com o cabelo penteado e bastante maquiada. Pareciam estar esperando alguém ali na esquina. Busquei ser discreta e não olhar muito, mas aquela visão anacrônica era impressionante. Fiz meia-volta e, quase correndo por entre as inúmeras barraquinhas de camelôs, tentei vê-los mais uma vez. Por quem esperavam? Por que estavam vestidos daquele jeito? Pensava em alguma estratégia para puxar assunto com eles... Porém, infelizmente, não os vi mais.

terça-feira, 3 de maio de 2005

Timor Leste: um país ignorado pela mídia

Hoje, em era de suposta democracia, seria de se esperar que tivéssemos acesso a todo e qualquer tipo de informação, sem restrições de ordem moral ou política. Afinal, já não vivemos mais em uma ditadura, já há a dita liberdade de imprensa e a globalização deveria promover uma maior integração entre os povos espalhados pelo mundo. Mais ainda: em busca de um fortalecimento cultural e mesmo econômico, os países de língua portuguesa deveriam estar em busca de uma aproximação cada vez maior. Deveria ser corriqueiro, por exemplo, sabermos o que acontece em Portugal ou Angola, tanto quanto o que acontece por aqui.

No entanto, basta passar os olhos pelos principais jornais e revistas brasileiros para ver que nada disso se verifica. Mal sabemos de Portugal, que dirá dos outros países... Aliás, pensando bem, mal sabemos de nós mesmos, já que nossos jornais vivem de repetir as matérias de todas as agências internacionais de notícias. Apenas repetimos o que é noticiado pelo mundo afora. Não temos acesso às notícias portuguesas, nem às angolanas e... menos ainda, às timorenses.

Tudo que chegou ao Brasil, nesses últimos 27 anos, a respeito do Timor Leste são ecos de uma independência, boatos a respeito de um massacre. Descontemos desses anos o período em que vivemos sob a ditadura militar, quando as notícias realmente eram filtradas antes de chegar aqui. O que se ouviu falar sobre o Timor desde então? Aliás, sejamos muito francos, quantos sabiam sequer que existia uma ex-colônia portuguesa do tamanho do nosso estado de Sergipe, ocupando metade de uma ilha entre a Indonésia e a Austrália? Quantos, então, sabiam que essa mesma colônia, vinha sofrendo com a dominação indonésia desde 1975?

A verdade é que só viemos a “saber” alguma coisa por volta de 1996. Foi nesse ano que o Timor conseguiu chamar a atenção (chamou mesmo?) do resto do mundo, revoltando-se de forma quase suicida contra a opressão. Um terço da população morreu em combate, em todos esses anos. A língua portuguesa foi praticamente desaprendida (proibida de ser falada sob pena de morte). O país foi praticamente destruído. E só agora a independência foi conquistada. Onde nós estivemos durante todo esse tempo?

Vale lembrar que essa história começou com a Revolução dos Cravos, em 1974, em Portugal, que libertou todas as colônias portuguesas ainda existentes. Inclusive o Timor. Porém, se Portugal, durante o período de colonização, pouco interferiu na organização política timorense, não seria depois de já ter libertado a colônia que iria realmente intervir. Então, o Timor ficou entregue ao seu destino. Afinal, na Indonésia, vigorava a ditadura de Suharto, que era patrocinada pelos Estados Unidos, assim como as ditaduras da América Latina, no mesmo período.

No entanto, o fim de nossa ditadura militar não fez com que soubéssemos o que acontecia do outro lado do mundo. O primeiro contato que tivemos com o problema timorense deu-se graças à internet, com correntes de e-mail falando a respeito do massacre. E o pior: era uma notícia tão absurda que muita gente nem leu o que estava escrito, acreditando ser apenas mais um boato. Nos jornais mesmo, nas revistas, pouco apareceu. Mesmo após a independência. Apesar de ter sido um dos últimos países por se decidir a ajudar, o Brasil tem sido um grande incentivador para a reconstrução do país. Apesar de não falar português há 20 anos, o Timor optou por ser um país lusófono. Para isso, conta com o apoio do governo brasileiro, que enviou para lá professores de português. Nossas novelas e músicas já começam a ser vistas e ouvidas pelo povo timorense.

No Brasil, a principal fonte de referência a respeito da situação timorense é o documentário Timor Lorosae – o massacre que o mundo não viu, dirigido por Lucélia Santos. Entretanto, mesmo este filme já não é muito atual. Desde o seu lançamento, em 2002, pouco se falou sobre o Timor Leste na mídia mundial. Menos ainda em âmbito nacional. É chocante pensar que algo com a grandiosidade do que aconteceu no Timor possa ter acontecido sem ser divulgado, sem que o mundo soubesse ou se importasse. Mas, pior ainda, é imaginar que essa situação continua a se repetir, não só em outros contextos, mas no próprio Timor, cuja reconstrução não vem sendo devidamente noticiada para o mundo.

De que adianta ficarmos orgulhosos de nossa tecnologia – que permite o acesso imediato a fatos ocorridos em todos os cantos do mundo – se hoje ainda é possível ocorrer uma falha tão gritante de comunicação? Por que a revolta no Timor não foi noticiada? Por que os outros países, que teriam condições de intervir, não fizeram quase nada? A verdade é que o Timor continua esquecido, assim como várias outras revoluções, revoltas e massacres que nossa mídia esconde de nós. Mais uma prova de que a tão propalada globalização é uma farsa e serve, apenas, para reproduzir um sistema de dominação e opressão.

quarta-feira, 27 de abril de 2005

Sobre o show de Paulinho da Viola

Não gosto de shows na praia. Geralmente, o som é ruim, tem gente demais, cerveja de menos, conforto nenhum. Quando se trata de Copacabana, então, pior ainda. E se o evento contar com alguma “celebridade”, melhor nem sair de casa. Como ficou provado no dia do show do Lenny Kravitz, quando o Rio sofreu um colapso no trânsito.

Entretanto, um show na praia de Icaraí sempre tem chances de ser algo imperdível. Foi assim, anos atrás, com o show do Madredeus. E foi assim, de novo, com o show de Paulinho da Viola, no dia 23 de abril. O evento fez parte da programação da prefeitura de Niterói, celebrando o Dia Nacional do Choro (também dia de São Jorge). Neste dia se comemora o aniversário de Alfredo da Rocha Viana, nosso Pixinguinha, um dos maiores nomes do choro no Brasil. É dia de música, muita música. Até porque, em parte, é graças a ela que “a gente vai levando”, como já dizia Chico e Caetano.

O show do Paulinho da Viola aconteceu debaixo de um aguaceiro histórico... Algo assim inesquecível! Com Eduardo Neves na flauta, Christóvão Bastos ao teclado e um menino chamado João Rabello no violão. Fora a galera da cozinha, claro. Maravilhoso demais. Claro que o início foi complicado, por conta das pessoas que insistiam em ficar sentadas, julgando-se donas da areia e reclamando dos que preferiam ficar de pé. Só porque elas conseguiram assistir sentadas ao show de abertura, do grupo Unha de Gato, não significava que permaneceriam confortavelmente instaladas durante a apresentação de Paulinho. Tinha muito mais gente! E, além disso, uma coisa é ouvir música instrumental sentado... Outra, bem diferente, é ouvir samba.

Mas a chuva – o temporal, melhor dizendo – chegou para resolver a questão: obrigou a galera a "levantar o traseiro" (citando Lula). Alguns foram embora, mas a platéia continuou lotada. Todos de pé, cantando e dançando (na medida do possível), partidários do ditado que diz que “quem está na chuva é pra se molhar”. E põe molhar nisso... Minha roupa não secou até hoje.

segunda-feira, 25 de abril de 2005

Uma orgia gastronômica e musical

Véspera de São Jorge, sexta-feira. Ao sair do trabalho, ando até o estacionamento. Vou buscar o carro para ir a uma roda de choro. No caminho, vejo os preparativos para a festa em homenagem ao santo. A rua Alcides Figueiredo, onde fica a igreja, tem um cheiro maravilhoso de cocada no ar (pena não poder reproduzi-lo aqui). Paro para comprar bolinhos de aipim fritos na hora. E, claro, paro para comprar cocada.

Minha vontade é ficar por ali, sentindo aquele cheiro açucarado. Mas resisto bravamente e sigo em direção ao estacionamento. Bolinhos e cocadas embrulhados para viagem. Meu carro fica impregnado pelo cheiro. Vou para Icaraí, quero ver o choro na praça. Afinal, dia 23 de abril também é o Dia Nacional do Choro, quando se comemora o aniversário de Pixinguinha.

Chego à esquina de Moreira César com Ary Parreiras: a música já havia começado. O comportado público niteroiense assiste ao show sentado nas cadeiras de plástico disponibilizadas pela prefeitura. Consigo um lugar e, como se estivesse em transe, desembrulho meu pacote ao som de Pixinguinha e Jacob do Bandolim. Não sobrou nada. Só lembro vagamente de pensar que Niterói talvez seja o paraíso.

Que venha o novo papa!

Tentei manter-me alheia à sucessão do papa. Não consegui. Primeiro, por causa de um e-mail enviado por um amigo que se mostrava surpreso com a comoção causada pelo assunto. Ele tinha ido comprar cigarros em um botequim e notou que as pessoas acompanhavam a disputa como se fosse uma Copa do Mundo. Torciam por um papa brasileiro e isso o preocupava bastante.

Não sei bem o motivo, mas gastei linhas respondendo que não me importava com essas bobagens. Cheguei até a tentar mostrar que um papa brasileiro não poderia ser assim tão ruim. Afinal, além de ser algo bastante improvável, havia candidatos bem piores. Algo que os cardeais fizeram questão de ratificar em seguida, elegendo um inquisidor, um nazista que ironicamente decidiu chamar-se Bento XVI. Tudo bem que a igreja seja reacionária, mas dessa vez exageraram!

O segundo fato que me fez abandonar de vez minha postura indiferente veio no dia em que anunciaram a escolha desse novo papa. Eu havia lido algo a respeito na internet e, logo em seguida, saí para o almoço. Caminhava tranqüila por entre os camelôs da rua São Pedro, no Centro de Niterói, quando notei duas mulheres conversando.

Uma gritou para a outra: “Por que esses sinos não param de bater?” Ao que a outra respondeu: “Já escolheram o novo papa. Acabei de ver na TV!” “E quem é?”, perguntou a primeira. “Não disseram ainda”, respondeu a segunda. Ouvindo este diálogo é que fui me dar conta da importância que o assunto tem para as pessoas. Comecei a achar que se tratava de um fato relevante afinal. Eu estava vivendo um momento histórico.

O impressionante é ver como a igreja católica continua a interferir na vida das pessoas. Pensando assim, experimentei uma sensação angustiante: andar pela rua São Pedro ao som do badalar ininterrupto dos sinos da igreja de São João. Tal como um metrônomo castrador, impõem seu ritmo: impossível apressar ou diminuir o passo. Por isso, acredito que não podemos fingir que a igreja não existe. É preciso conhecê-la para poder combatê-la.

domingo, 10 de abril de 2005

É possível ser feliz...

Dia desses, fui ao shopping. Confesso não ser, este, meu habitat natural. Não consigo mesmo conceber como há quem ame shoppings centers. Para mim, soa bastante desagradável esbarrar em milhares de pessoas e ficar imersa naquele burburinho constante. Principalmente, nos fins-de-semana, quando parece não existir outras opções de lazer disponíveis pela cidade. Senão, como explicar a enorme quantidade de adolescentes que perambulam pelos corredores em pleno sábado à noite? Falta de segurança nas ruas? Talvez... Mas será apenas isso?

Estava lá, com o Rodrigo, à espera de um amigo. Não podia olhar as vitrines, sob pena de me desencontrar do Rafael. Isso só faria prolongar minha permanência no shopping, portanto tratei de ficar bem à vista. No terceiro piso, parada ao lado de uma pilastra, debrucei-me sobre a grade que dava para o interior do shopping. Passei a observar as pessoas e, especialmente, as crianças que brincavam nos três bungee jumps do primeiro piso. Pareciam estar se divertindo.

Foi então que a vi. Aguardando sua vez, estava uma menina gordinha, branquela, de cabelo preto, liso e comprido. Meu primeiro sentimento foi um misto de pena e orgulho, porque ela era gorda e ia se aventurar naquele brinquedo de elásticos, onde crianças esquálidas estavam brincando... Mas sei que ser gorda em um mundo de magros é muito difícil. Aquela criança era eu. E não conseguia deixar de olhá-la.

Fiz com que o Rodrigo também prestasse atenção na menina. Ficamos lá, os dois, acompanhando cada movimento. Vimos quando o responsável pelo brinquedo trouxe um cinto e tentou prendê-la. Era pequeno. Ele saiu em busca de outro, mas a menina nem se abalou. Chamava atenção o seu sorriso, de orelha a orelha. Parecia não se importar com nada disso. Deixou-se amarrar com o outro cinto e ficou lá, esperando sua vez. Vez ou outra, virava-se para a mãe e dava um tchauzinho. Era a própria celebridade.

Finalmente, chegou sua vez. Aos saltos, subiu no brinquedo. Deixou-se prender ao elástico e começou a ser içada. O responsável a puxou, para largá-la em seguida. E ela foi até o alto e começou a cair. O sorriso permanecia inabalável e parece ter contagiado o sujeito que ficava ali para lhe dar impulso. Ele passou a pular junto com ela e a menina, cada vez mais sorridente, começou a balançar as perninhas a cada descida. E tremia toda, como num gozo. Era gostoso de ver. Ela era gorda e estava feliz. E a mãe também sorria.

A brincadeira acabou. A menina saiu do brinquedo tão sorridente como no início, completamente descabelada. Mãe e filha seguiram seu caminho pelo shopping. Eu e Rodrigo nos olhávamos, meio em transe, já sem palavras para comentar o que tinhámos visto. O Rafael chegou com a namorada. Não comentamos nada. O assunto morreu. Entretanto, ficou a certeza de que aquele foi um momento único. E o shopping, outrora tão assustador, de repente ganhou uma certa magia. Mas ainda assim não consigo entender o porquê de lá haver tanta gente. É uma pena, mas felicidade (como a da menina) é coisa que dá e passa.

domingo, 6 de fevereiro de 2005

O "auto-romance" de G. G. M.

Para escrever boas histórias, é preciso primeiro vivenciá-las. Pelo menos, é isso o que Gabriel García Márquez defende em Viver para contar, primeiro volume de suas memórias. Neste livro, Gabo conta histórias de sua juventude e de como tornou-se escritor e jornalista, lutando contra a vontade de sua família que o queria advogado.

Sua biografia tem ares de romance. Se antes já se dizia que seus livros eram todos baseados na vida real, agora fica difícil crer que sua vida não é a própria literatura em estado bruto. É um desses livros que a gente começa já pensando em reler com um caderninho a postos: para anotar os nomes dos personagens e as diversas referências literárias. Afinal, leitor compulsivo, o autor cita todos os livros que considera fundamentais para sua “formação” como escritor. E, com isso, acaba por "fazer a alegria" dos sebos da cidade, promovendo a peregrinação de seus leitores em busca dos títulos citados.

Seja como for, uma coisa fica clara: embora leituras e experiência de vida possam ser importantes, a vivência prática da escrita ainda é determinante. Sem dúvida alguma, a obrigação cotidiana de produzir textos exigida pelo ofício jornalístico foi e – por que não? – continua sendo uma grande escola.

domingo, 30 de janeiro de 2005

Uma certa nostalgia

Ultimamente, venho pensando em como é difícil observar que as pessoas que nos rodeiam, justamente as mais queridas, da nossa família, estão envelhecendo. A conseqüência - natural, mas nem por isso menos trágica - é que elas vão morrer e vamos, aos poucos, perder nossas referências sociais. Hoje, elas estão aqui. Amanhã ou depois, talvez não estejam mais. É algo inevitável e que nos dá, por vezes, uma incrível sensação de impotência.

É pena, mas esse é um assunto sobre o qual não podemos falar com qualquer um, sob pena de ouvir aqueles velhos chavões: "faz parte da vida", "é assim mesmo", "não tem jeito"... De um sábio conformismo, admito. Sábio, porque, em face ao inevitável, o melhor talvez seja mesmo aceitar e pronto. Mas esse é um conformismo bastante incômodo, que não resolve nada. Na verdade, a pessoa vai continuar triste, a saudade vai bater do mesmo jeito... Ora, por que temos tanta dificuldade em lidar com essa história de morte?

Tenho pensado no meu avô (que já se foi) e, por tabela, no meu pai, na minha mãe, em todos os que ainda estão por aqui e, puxa, como eu queria que não se fossem jamais! Não se trata nem de eternidade, ou coisa parecida, o que eu gostaria era de saber quanto tempo terei com cada um, para poder aproveitar ao máximo. Não seria fantástico? Bem mais seguro, com certeza... Outra coisa que me deixa bem triste é pensar em que coisas passadas e que não vão acontecer de novo. Fotografias ajudam a lembrar, é verdade. Mas eu juro que ficaria bem mais satisfeita de voltar ao passado, observar tudo ali, in loco. Mas nem precisaria ser algo presencial. A vida podia ser, assim, uma espécie de dvd. A gente escolhe a cena a que deseja assistir. Imagina a quantidade de coisas que poderíamos lembrar, repensar, entender...

Entretanto, estamos restritos às lembranças que nossa tecnologia permite. E, talvez por medo, seguimos tratando tão mal nossos velhos... Dói perceber que a jornada deles está chegando ao fim. Dói saber que aquele futuro ali é também o nosso. E dói demais lembrar que, não faz muito tempo, eles eram jovens como a gente, tinham boa memória, andavam sem dificuldade... Caramba, como isso tudo é difícil!!! No fundo, Nelson Cavaquinho é que tinha razão ao cantar:

Sei que amanhã quando eu morrer,
os meus amigos vão dizer
que eu tinha um bom coração.
Alguns até hão de chorar
e querer me homenagear
fazendo de ouro, um violão

Mas depois que o tempo passar
sei que ninguém vai se lembrar
que eu fui embora.
Por isso é que eu penso assim:
se alguém quiser fazer por mim,
que faça agora.

(...)

(Quando eu me chamar saudade, Nelson Cavaquinho)