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sábado, 2 de julho de 2005

Para quem gosta de Woody Allen...


Radha Mitchell, em dupla interpretação

Há dias, diria até semanas, estou para escrever sobre “Melinda e Melinda”, o filme do Woody Allen que está em cartaz nos cinemas. (Pensei em dizer “o novo filme”, mas acho que este não é o adjetivo mais apropriado, em se tratando de Woody Allen... Não lembro onde, mas li certa vez uma crítica que abordava justamente o fato de que os filmes deste diretor demoravam demais para estrear por aqui. E que isso, geralmente, só acontecia quando ele já estava envolvido em outro projeto. Ou seja, até que ponto um filme de 2004 ainda pode ser chamado de: novo? Novidade é sinônimo de ineditismo?) O chato de escrever tanto tempo depois é que é preciso um certo esforço de memória para lembrar de detalhes etc. Por outro lado, no entanto, creio que fica a essência do filme: se ele não deixou marcas é porque não valia mesmo a pena ser comentado.

Woody Allen é um diretor cujos filmes nem sempre me agradam, mas, ainda assim, não posso deixar de conferir. A “culpada” disso é minha amiga Rosana (que duvido muito que saiba da existência deste blog), pois foi ela quem me fez perceber o quanto um filme do Woody Allen pode ser divertido e, às vezes, até genial. Não saberia dizer qual o primeiro filme dele a que assisti, nem poderia fazer uma lista com os meus preferidos. Nesta, certamente, incluiria “Poucas e Boas” (Sweet and Lowdown). O filme, preto-e-branco, é um falso documentário que conta a história de um fictício músico de jazz: Emmet Ray, que teria sido muito famoso, mas caiu no ostracismo e, por isso, nunca mais se ouviu falar nele. Para tornar a história verossímil, Woody Allen recheia a narrativa com depoimentos de pessoas realmente ligadas ao jazz e capricha na trilha sonora. Para quem não viu, fica a sugestão.

Mas, voltemos ao “Melinda e Melinda”. Antes de mais nada, devo dizer que adorei o argumento do filme: a discussão sobre tragédia x comédia. O filme começa com uma conversa entre amigos, que tentam determinar se a natureza humana é trágica ou cômica. Um amigo conta uma história, cuja personagem principal é Melinda, e lança a questão: trata-se de uma tragédia ou de uma comédia. No grupo, há dois autores teatrais, cada qual com sua preferência. E, para defender seus pontos de vista, eles começam a contar a mesma história, inserindo elementos de um e de outro gênero. Surgem, então, duas Melindas: a trágica e a cômica. Ambas interpretadas pela mesma atriz: a australiana Radha Mitchel (muito bem nos dois papéis). Destaque, ainda, para a atuação de Will Ferrell, no papel de neurótico (que caberia ao próprio Woody Allen).

Tentando resgatar minhas impressões sobre o filme, lembro que saí do cinema gostando mais da história trágica. Mas, no dia seguinte, já tinha dúvidas e a Melinda cômica me parecia mais interessante. Depois, aí é que não sei mesmo... No fundo, a questão vai além de uma simples preferência pessoal, porque qualquer tentativa de dividir o mundo de forma binária tende ao fracasso. A tragédia é, também, comédia. E vice-versa. Aliás, isso fica nítido na própria narrativa de Woody Allen... E, além do mais, gostar de uma não implica em não gostar da outra. O mundo é dialético, ora!

Um comentário:

Andre_Ferreira disse...

Já no filme "Escorpião de Jade" há uma referência à relação entre a tragédia e a comédia, em que inclusivamente aparecem coros como nas tragédias gregas. Este filme de que aqui falas ainda não vi, mas quer-me parecer que o Woody Allen anda a ler as tragédias e as comédias gregas nos últimos tempos! E claro, a "Arte poética" do Aristóteles!

Beijinhos