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terça-feira, 20 de dezembro de 2005

Por ti Javé

...ou Narradores de uma América Pré-Colombiana?


Venci a preguiça e fui ao CCBB assistir à mostra “Por ti América” (em cartaz até 29 de janeiro). De repente, me vi em meio a fragmentos de civilizações tão anteriores à nossa. Verdadeiros pedaços de um continente com o qual mal conseguimos sonhar... É a velha história: seriam os deuses astronautas? Sei lá. Mas o fato é que são várias perguntas sem resposta e uma enorme quantidade de conhecimentos perdidos, talvez para sempre.

É aterrador perceber que da cultura riquíssima de um povo, muitas vezes, só sobram os vasos, pequenas esculturas e enfeites. Na exposição, além disso, vemos pedaços de tecidos e vídeos explicativos. Os nomes dos povos, os tais sambaquis, tupinambás e afins, a gente vai aprendendo aos poucos... E o nome dos locais, idem. Afinal, quando se fala em América Pré-Colombiana, não dá para usar a terminologia atual e referir-se a Brasil, Argentina... Então, dá-lhe Mesoamérica, Andes etc.

Essa visita me fez lembrar, ainda, de um filme a que assisti em dvd. Já faz alguns meses, mas não cheguei a comentá-lo por aqui. Chama-se “Narradores de Javé” e é um filme que fala sobre a memória de um povo. Dirigido por Eliane Caffé, o filme traz no elenco nomes como o de José Dumont, Matheus Nachtergaele, Gero Camilo, Nelson Dantas e Nelson Xavier, entre outros. A história conta o seguinte: ao saberem que a cidadezinha de Javé será inundada para a construção de uma usina hidrelétrica, os moradores decidem preparar um documento contando os grandes feitos da cidade, numa tentativa de salvá-la da destruição. Para isso, recorrem a Pedro Biá (José Dumont), que é o único que sabe escrever e que, no passado, numa tentativa de salvar seu emprego nos Correios, provocou uma grande confusão ao escrever cartas anônimas para todos.

O filme é simples. Singelo talvez seja a melhor palavra. Os personagens são engraçados, embora um tanto superficiais... E as situações, ah, são engraçadíssimas! Além do mais, acho tão poética a história das cartas de Pedro Biá! Eu mesma já me peguei prometendo voltar a enviar cartas, caso os Correios corressem o risco de fechar suas portas por causa da internet... Mas, voltando ao filme, embora o fim deixe um pouco a desejar, considero-o imperdível. Tanto quanto a exposição, aliás. Fico imaginando aqui o que teríamos sabido se cada povo, antes de desaparecer, produzisse um documento coletivo em que contasse toda a sua história. Talvez fosse uma narrativa tendenciosa e, com isso, se tornasse um fragmento a mais. Mas é possível, também, que fosse a chave para milhares dos mistérios que permeiam a história da humanidade. E, assim, poderíamos olhar para o futuro com mais atenção, pois teríamos – verdadeiramente – uma consciência do passado.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

E os camelos? Também choram?

Viram só? O tal camelo albino é de verdade!

Há tempos não comento filme algum. Em primeiro lugar, porque – já disse isso aqui – passei um bom tempo sem ir ao cinema. Mas, principalmente, porque não tenho tido muita vontade de escrever sobre nada. Tanto que assisti a “Camelos também choram” e mantive-me quieta. Talvez até porque não tenha muito a dizer a respeito... Não que o filme não valha a ida ao cinema – não me entendam mal – até que vale, mas o fato é que, digamos assim, a história não é lá muito movimentada.
Aviso logo aos que detestam filmes com estética culturalmente distinta da ocidental e que passam longe dos cinemas que exibem longas-metragens iraquianos, japoneses e afins: esta é uma co-produção Alemanha/Mongólia. Portanto, como não faço questão de convencer ninguém, por mais que abomine esse tipo de atitude preconceituosa (e descabida), acho que é uma boa oportunidade para ficar em casa. Se não gosta, melhor nem ir ao cinema, porque senão atrapalha. Se bem que o filme já saiu de cartaz... Então, caso o encontre em dvd, pense bem antes de alugá-lo. Depois, não diga que não avisei...
Mas, voltando ao filme... O curioso é que praticamente todos os amigos com quem conversei a respeito acharam o título muito engraçado. A primeira reação, em geral, foi rir. Muito. Afinal, como assim camelos também choram? Em seguida, muitos me perguntaram se se tratava de um desenho animado... Alguns ficaram um tanto decepcionados com a resposta, outros, simplesmente, não acreditaram em mim. “Documentário? Fala sério, né???” “Tipo Discovery?” Foram algumas das coisas que escutei.
Então, tomei coragem, convenci minha metade a me acompanhar – e só depois de muita relutância, consegui convencê-lo a ir ao cinema – e, finalmente, assisti ao filme. Já sabia da história do camelinho albino rejeitado pela mãe, já sabia que o cenário era o deserto de Gobi, sabia que a única esperança era que a mamãe camela ouvisse um violino (?) e também sabia que dois jovens sairiam em busca de um músico que tocasse o instrumento. Enfim, talvez eu já soubesse o filme inteiro. E olha que ele não é muito longo...
Se é assim, por que vale a pena assistir? Ora, em primeiro lugar, porque mesmo sabendo de cor todo o roteiro – convenhamos – camelo albino? Só vendo pra crer! E, em segundo, porque o filme é bem mais que isso: diria que é um poema audiovisual. Afinal, são várias as metáforas que podem ser lidas nessa história de rejeição, diferença de cor... E, gente, tudo se resolve com música! Ainda que o tal violino esteja mais para cítara... Mas isso tudo serve para mostrar que não é preciso apelar para o óbvio: o filme é uma excelente oportunidade de termos contato com os costumes de um povo cuja existência a gente nem sequer conhecia. Além de também aprender mais sobre os próprios camelos, animais quase míticos que têm fama de melancólicos (aliás, o filme fala sobre isso!). Ou seja, uma verdadeira aula.