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segunda-feira, 14 de maio de 2007

Um passaporte húngaro?

Parentes observam documentos reunidos por Sandra Kogut,
para provar a origem húngara de seu avô


Dia 9 de maio de 2007, quarta-feira. Chuva e frio. Um frio a que o carioca já não estava mais acostumado. E, para completar, jogo do Flamengo no Maracanã. Dia de decisão, ingressos esgotados e todas essas coisas. Dia de CineSobrado, com a exibição do filme “Um passaporte húngaro”, de Sandra Kogut.

Eram 20h e estávamos lá apenas Marjorie, Claudio, Leo Pinheiro, Leo Kussama, Flávio e eu. Apareceria alguém? Aproveitávamos para pôr o papo em dia, já pensando em ir embora mais cedo. Afinal, sempre bom evitar a confusão em dia de jogo, ainda mais que o maraca é ali pertinho... Mas, às 20h20, nosso “público” deu as caras. Binho, se não me engano. E exibimos o filme. Nosso amigo Luciano ainda chegou no meio da sessão, para completar o time.

Confesso que não participei da escolha desse filme. Não tive tempo de assistir antes, portanto não sabia bem o que esperar. A verdade é que não levava muita fé, não. Também, que conclusão tirar de tal sinopse: “O documentário busca descobrir de que é feita a construção de uma identidade: os documentos, a memória, a família, um sobrenome, uma história, uma herança. O que é que significa hoje, na França, ser húngaro? E brasileiro? O que é uma nacionalidade? Através do pedido de passaporte – o fio condutor do filme – o documentário narra parte da história de uma família, dividida como muitas, entre dois mundos e dois exílios: aquele dos que se foram e aquele dos que ficaram”. Pode ser ótimo, assim como pode ser uma “bomba”, não é?

Mas o filme é bem legal. Traz questões interessantes. E, para quem leu “O processo”, de Franz Kafka, ou “Todos os nomes”, de José Saramago (esse é o meu preferido, aliás), é um prato cheio. O filme é exatamente a peregrinação de Sandra Kogut por entre a máquina burocrática de embaixadas e arquivos, em busca de um passaporte húngaro. Passaporte, esse, ao qual ela se julga no direito de possuir por ser neta de avô húngaro, simplesmente. Tanto que, questionada quanto ao motivo de querer o documento, já que ela não fala húngaro e sequer conhece a Hungria, ela se cala. Pode ser porque, à época da filmagem, a Hungria estava prestes a entrar na Comunidade Européia e, morando em Paris, ela estivesse atrás das facilidades de ter cidadania européia para se locomover por lá. Mas pode ser, também, apenas para fazer um filme. Isso não fica claro.

A verdade é que o filme poderia ser melhor. Concordo com a crítica de Cléber Eduardo, da revista Contracampo: “o filme projetado apenas esboça quão bom poderia ter sido”. Ele diz que há dois filmes em “Um passaporte húngaro”, um evidente e outro “tocado para a lateral”. “O filme evidente é uma kafkiana perambulação pelas burocracias estatais, questão antiga dentro da vida moderna. Já o filme tocado para a lateral trata da construção constante de identidade individuais mediadas-mas-não-limitadas pelos caráteres nacionais.” Por mais inacreditáveis que sejam as exigências burocráticas para a emissão do tal passaporte! Mas isso, embora seja o aspecto principal do filme, é apenas a superfície. Com a palavra, mais uma vez, Cléber Eduardo:

“O outro caminho aberto pelo filme leva à reconstituição documentada em arquivos, e narrada pela avó e pelos tios, do processo migratório de judeus europeus para o Brasil. Em suas visitas a órgãos oficiais, a diretora aprende que seus antepassados, como outros imigrantes do Leste Europeu na primeira metade do século, também trocaram de cidadania. De nome e religião até. Optaram pela reinvenção do "eu público" e pela mudança para outro país de modo a não caírem na malha fina da patrulha mundial anti-semita. Durante o aprendizado sobre sua pré-existência, com a qual não demonstra ter qualquer intimidade, a realizadora passa a se revelar sujeito histórico, único como todos, mas fruto também de um contexto amplo, cujo ponto mais visível é a origem húngara e o judaísmo. Ela passa a ser vista como indivíduo atado à história do século XX. Na realização do filme, parece descobrir isso. E sua inserção no passado se dá também com imagens de Recife, Budapeste e do Rio em um tom cromático memorialístico, como se aquelas imagem filmadas no século XXI fossem de antanho. Sandra Kogut tenta dar imagem ao passado em seu presente.”

Bem, é isso. O próximo filme a ser exibido no CineSobrado será “Dois perdidos numa noite suja”, no dia 23 de maio. Como sempre, uma quarta-feira. O horário: 20h; o ingresso: R$ 2 ou 1 kg de alimento não perecível. O endereço é rua Gonzaga Bastos 312, Vila Isabel. Espero vocês lá!

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Noel Rosa de geração em geração

Os moradores de Vila Isabel homenageiam seu poeta nos
70 anos de sua morte

Na falta de foto, fiquem com o programa do show...

Pensei em passar o último fim-de-semana descansando, para me recuperar de uma gripe maldita que me pegou em cheio. Começaria já pela sexta-feira, indo para casa dormir. Simples assim. Acontece que, no trabalho, fiz minha visita habitual ao blog Histórias do Brasil, do meu querido professor Luiz Antonio Simas, e me dei conta de que era 4 de maio. Ou seja, há exatos 70 anos morria Noel Rosa. Para quem me conhece, sabe que desde criança sou fascinada pela obra desse sujeito. Aos 18 anos, em pleno ano de vestibular, larguei apostilas e simulados para devorar a biografia escrita por João Máximo e Carlos Didier, “Noel Rosa: uma biografia”. Livro que considero, aliás, um dos melhores que li até hoje.

Passei, então, a procurar as homenagens que fariam, pois 70 anos de morte é uma data importante, não é mesmo? Afinal, a partir do próximo 1º de janeiro, a obra de Noel Rosa cairá em domínio público e isso merece ser celebrado. Acontece que os únicos eventos de que ouvi falar foram os Escravos da Mauá (sempre com aquela história de “não divulguem” e blá-blá-blá), meio longe para quem estava gastando lenços e mais lenços de papel, e um show em Vila Isabel. E esta foi minha escolha por três motivos: de graça, perto de casa e com um time de primeira (Nilze Carvalho, Marcos Sacramento, Cristina Buarque e Roberto Silva, para citar apenas os cantores).

Não me arrependi. Graças à pouca divulgação, o evento não ficou insuportavelmente lotado. Foi um típico evento de bairro, com as pessoas andando despreocupadas pelo Boulevard 28 de setembro, cujo trânsito ficou fechado até meia-noite. A localização do palco foi privilegiada, perto de vários bares e de frente para o tradicional Petisco da Vila. Mesinhas e cadeiras ocuparam metade da rua, a outra metade ficou livre para o pessoal acompanhar o show de pé. Noite agradabilíssima. Acompanhem só o programa:

1) Nilze Carvalho
- Eu vou pra Vila
- Conversa de botequim
- Feitio de oração
- Com que roupa?

2) Marcos Sacramento
- Só pode ser você
- Mulato bamba
- Meu barracão
- Triste cuíca

3) Cristina Buarque
- O x do problema
- Cem mil réis / Quem ri melhor
- Julieta
- Três apitos

4) Roberto Silva
- Fita amarela
- Dama do cabaré
- Palpite infeliz
- Feitiço da Vila

5) Encerramento (Todos)
- O orvalho vem caindo / Até amanhã

O bis eu esqueci... Minha memória não é lá das melhores, né!? Mas, saquem só os músicos: Henrique Cazes – cavaquinho e direção musical; Luis Filipe de Lima – violão; Itamar Assiere – piano; Dirceu Leite – sopros; Beto Cazes e Paulino Dias – percussão. Aplaudidíssimos, claro. Exceto no momento em que Henrique Cazes desandou a elogiar o vereador Paulo Cerri. Desnecessário, eu acho. Bem, até entendo o agradecimento, uma vez que foi ele o responsável pela homenagem... Mas a babação de ovo a meu ver foi excessiva. E as vaias, portanto, merecidas.

De lá, eu e Flávio fomos beber no Vila de Noel com os amigos que encontramos pelo caminho. Várias Bohemias depois, vimos o trânsito voltar a circular normalmente. Minha gripe, é claro, piorou consideravelmente e fomos embora. Só não consigo entender como é que as pessoas podem perder eventos como esse, de qualidade, baratos e super tranqüilos. Como a senhora que encontrei no caixa do banco Santander e me perguntou se eu também estava indo ao bingo. Constrangida, bastante nervosa, disse-me que havia acabado de perder R$ 1.000 e que não sabia o que iria fazer. Estava ali para ver se sacava algum dinheiro e voltava lá, para tentar recuperar alguma coisa. Me deu uma tristeza... Minha vontade foi arrastá-la comigo pela rua, para comer uma tapioca e tomar umas cervejas até o show começar. Mas, acho que seria inútil... Não é mesmo?