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domingo, 24 de julho de 2011

"Você tem fome de quê?

Sexta passada, na hora do almoço, fui abordada por um sem-teto em plena Cinelândia. O tempo estava virando e eu procurava um lugar para almoçar. Ele veio logo me dizendo que não ia me assaltar, que não ia me pedir dinheiro, apenas comida. Eu disse que não tinha dinheiro, mas ele respondeu: "Olha, dona, eu estou com muita fome, se a senhora puder comprar qualquer coisa no cartão, eu agradeço". Concordei, e ele me apontou uma padaria na Álvaro Alvim.

No caminho, ele foi me dizendo que não entendia por que essa prefeitura dizia na TV que estava recolhendo todos os moradores de rua, já que isso é uma tremenda mentira. Segundo ele, essa história de abrigo é uma farsa, pois, ao chegar lá eles fazem o seguinte: examinam os olhos deles e coletam um pouco de sangue, só para ver se eles são usuários de crack. Estes são os que ficam nos tais abrigos. Os demais são liberados, sem receber sequer comida. E, por isso, ele estava faminto, pois tinha passado a manhã inteira em função da prefeitura.

O sujeito era muito articulado. Chegando na padaria, pediu que lhe comprasse um açaí, produto da terra dele, Belém. Eu perguntei se um açaí não seria muito pouco, se ele não queria também um salgado. E ele: "Ih, dona, o que a senhora quiser comprar pra mim eu aceito. Não pergunta muito, não, senão a senhora vai acabar gastando todo o seu cartão comigo". E riu.

Entrei na fila do caixa e, enquanto esperava para pagar, ele comentou: "Ih, a senhora tem uma tatuagem no pescoço!" Eu achei aquela reação engraçada e perguntei: "Tenho, sim, por quê?" E ele: "É que eu tenho uma dessas também, na perna". "Uma dessas?", estranhei. "Uma maçã?"


"Sim, uma maçã mordida.Arrancaram um pedaço dela."

Depois, disso, entreguei o papel para ele pegar o lanche dele e saí fora antes que ele quisesse me mostrar a tatuagem dele. Afinal, vai que, né? ;-)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Qualquer semelhança é mera coincidência?

Estava eu no McCafé, tomando um expresso com o pessoal do trabalho, quando engoli em seco e fiquei muda: por alguns instantes, tive certeza de que meu tio Marinaldo caminhava em minha direção. Diante daquela visão do além, pensei: "Porra, isso lá é hora de ver defunto?" Fiquei pensando: "Bem, vai ver que ele tem algum recado pra mandar... Mas por que eu, cara? Por quê?" Eu era nova no trabalho, não conhecia o pessoal direito e fiquei imaginando o que eles iam achar daquilo...

Como não consegui disfarçar meu embaraço, saí apontando o sujeito para todos os meus colegas, torcendo para que eles também o vissem. Eu dizia: "Olha lá, é igual ao meu tio Marinaldo!", como se eles soubessem quem havia sido o Marinaldo. Então, me dei conta de que era apenas um sósia bizarramente parecido com meu tio. Afinal, todos o viram (embora, obviamente, não tenham notado qualquer semelhança). Eu o encarava, ele me encarava de volta. "Esse cara não me é estranho!", pensava. Mas achava que provavelmente era porque ele se parecia com o Marinaldo.

Fiquei tão impressionada com a semelhança que um colega até se dispôs a "posar" para uma foto em que o dito-cujo aparecesse ao fundo. Eu precisava mostrar aquilo para minha tia e minha prima, respectivamente viúva e filha do Marinaldo! Pelo menos, para ter certeza de que a tal semelhança existia mesmo, não era coisa da minha cabeça. E não era, porque elas também ficaram boquiabertas.

Acontece que passei a esbarrar com o Sósia vez ou outra no McCafé e a coisa perdeu um pouco a graça por um tempo... Até o dia em que o vi nas proximidades da minha casa, meses depois, caminhando com sacolas de supermercado em plena Conde de Bonfim. Isso, confesso, me deu um certo medo. Como assim, o Sósia do Marinaldo era meu vizinho? Será que eu o conhecia dali, afinal? Fiquei realmente confusa.

Passei um bom tempo sem vê-lo... Tanto que já até havia esquecido essa história. Nem sinal dele no McCafé nem nas ruas da Tijuca. Nada. Foi num domingo à noite, quando fui com minha amiga Juliana visitar o Cotidiano, bar que abriu onde antes outrora funcionava o Gratidão, um pé-imundíssimo que costumava frequentar com Clauber e afins.

Pertinho de casa, na esquina da rua em que mora meu amigo Felipe. E, como sempre que ia ao Gratidão tentava convencê-lo a vir me encontrar (coisa que ele NUNCA fez, diga-se de passagem), resolvi manter a tradição e chamá-lo para vir à versão limpíssima que se instalou no lugar. Obviamente, ele não veio, alegou estar já na cama, numa ressaca monumental.

Talvez porque eu tenha respondido debochadamente, desdenhando de sua enxaqueca alcóolica, Felipe pediu aos pais, que iam descer para passear com o cachorro, para falar comigo no bar. Pois bem, fui abordada pela mãe dele, sorri, disse que entendia, que estava só botando pilha no filho dela, que era um amigo desnaturado, ela concordou que era um absurdo ele NUNCA ter ido lá me encontrar... Nisso, vi o cachorro fofo deles e, pasmem, dei de cara com o Sósia. E, putz, ele era o pai do Felipe! Mas fiquei quieta. Por um instante, duvidei de meus olhos. E se não fosse ele o Sósia do McCafé?

Mandei um torpedo pro Felipe dizendo que precisava contar uma história bizarra envolvendo os pais dele, que era para ele me procurar... Aliás, nossa amizade é cheia de coinciências bizarras que não vêm ao caso agora... Depois de receber o torpedo, lógico que ele me prontamente me procurou no MSN. E contei tudo, mandei a foto que fiz no McCafé... Era realmente o pai dele. E, depois que ele viu umas fotos do Marinaldo, até ele ficou bolado.

Tá achando que isso tudo é exagero? Invenção minha? Pois, tire você suas próprias conclusões... Observe atentamente as fotos a seguir:

O Sósia (ou Álvaro) é o que aparece atrás da cara de bobo do Léo,
que gentilmente posou para a foto e, sem o qual, esta história não teria boa parte da graça.

O famoso Marinaldo Guimarães, meu falecido tio.

E aí? São ou não parecidos? :-)