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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Leituras de janeiro

Janeiro chegou ao fim e, finalmente, fevereiro deu o ar de sua graça! Quanto a mim, sigo firme e forte em meu propósito de ler tudo o que puder. Afinal, o clima nesse auge de verão me deixa um tanto prostrada e ler é algo que, para mim, combina com o ócio. Ainda mais porque, sendo revisora de textos, nas minhas horas vagas, procuro ler apenas por prazer e jamais por obrigação. Mesmo porque, convenhamos, não seriam horas vagas. A partir do momento em que leio porque preciso, a leitura, em geral, converte-se em trabalho...

Informo, portanto, o seguinte: até o momento, já devorei três livros e estou prestes a terminar o quarto. Não me arrependi de nenhum, para minha sorte e deleite, embora alguns tenham sido melhores que outros. Ainda há vários títulos na fila, que não para de crescer, mas quem sabe até o fim de 2010 eu não consigo ficar em dia com minhas leituras? Se é que isso é possível, uma vez que não resisto a sebos e livrarias. É verdade que, desde que saí da casa dos meus pais, meu orçamento para este tipo de coisa deu uma encurtada, mas ainda consigo reservar algum para a aquisição de novos exemplares. E sempre há os amigos que nos presenteiam com livros...

A primeira leitura que concluí este ano teve início no fim de 2009. Trata-se do livro Minhas duas estrelas, de autoria de Pery Ribeiro e Ana Duarte. Escrito na primeira pessoa, a obra é um depoimento do cantor Pery Ribeiro sobre seus pais: Dalva de Oliveira e Herivelto Martins. A narrativa é catártica. Tive a impressão de estar diante de alguém que tirava um peso enorme do peito e punha tudo para fora, sem muita ordem. E, por isso, o texto soa, muitas vezes, repetitivo. Além disso, tenho cá minhas dúvidas quanto a se o autor deveria ter se exposto tanto. Entretanto, é uma leitura interessante, que talvez peque por não trazer a isenção que um autor alheio ao tema traria, com mais informações sobre os artistas que foram Dalva e Herivelto. Acho que o relato de Pery é excessivamente íntimo (embora ele se esforce para não assumir o papel de juiz) e acaba se prendendo demais nas falhas de ambos como seres humanos imperfeitos que foram. Não vi a minissérie da Globo, mas imagino que tenha seguido o mesmo tom... Para o livro, tudo bem. Mas, sei lá, me parece que este não deveria ser o foco para uma minissérie. A vida pessoal pode, sim, ser importante (e certamente o foi para um filho relegado a segundo plano), mas fico imaginando as gerações que desconhecem os artistas em questão (como a minha e as seguintes, mais ainda) e que somente terão acesso à polêmica, à "fofoca". Em minha opinião, é uma leitura complementar, para quem já teve acesso ao legado artístico dos dois.

O segundo livro que li esse ano foi O seminarista, de Rubem Fonseca. Apesar de ter sido catalogado como romance, diria que é mais uma novela. É curto, ágil, parece um conto esticado. Sou suspeita para comentar porque adoro o estilo do autor, embora prefira - mil vezes - seus contos. Peço, porém, que alguém leia e me explique uma passagem... Não vou entrar em detalhes, para não estragar a história, mas eu juro que fiquei perdidinha no trecho em que ele narra que um sujeito reaparece como se fosse um avatar. Como assim, gente? Tem avatar até nos livros do Rubem Fonseca??? Compreendam: eu sei o que é um avatar, ok? Não é essa a minha dúvida. O que eu não encontrei foi uma explicação para a aparição do tal avatar. Portanto, me ajudem... Tenho medo de ter deixado algum detalhe escapar durante a leitura. De resto, diria que o livro é um bom exemplar de R.F. Leiam e comentem, please!

O terceiro livro a ocupar meus dias em janeiro foi A viagem do elefante, de José Saramago. A obra é classificada como conto, mas tem praticamente o mesmo tamanho do livro do Rubem Fonseca. Poderia ser, facilmente, portanto, chamada de novela. Enfim, deixo a discussão para os teóricos de plantão e digo apenas isso: o livro é fofo. Gente, eu fiquei apaixonada pelo elefante Salomão/Solimão, animal de brio, que seguiu - a pé - de Lisboa até Viena, enfrentando o frio dos Alpes. Adorei também o seu cornaca (condutor/tratador) Subhro/Fritz, em cuja boca Saramago colocou tantas considerações interessantes. Confesso que foi um livro que resisti a comprar e ler, porque prefiro os romances de Saramago e achei que essa história de elefante tinha tudo para ser um tédio só. E, putz, eu estava MUITO enganada, mesmo.

O livro que estou lendo agora - e que vai pela metade - chama-se Corações sujos e já estava em minha estante há anos. Comprei-o quando a Joana, colega de Facha, trabalhou no estande da Cia. das Letras numa bienal e me ofereceu o catálogo para escolher os livros que ela compraria para mim com desconto. Escolhi alguns, sem grandes expectativas, e deixei-os guardados na estante para quando tivesse tempo e/ou interesse em ler. Entre os títulos, essa obra do Fernando Morais, que só fui ler agora: pesquei-o ao passar apressada pela estante, apenas porque precisava de um livro para ler no ônibus, no metrô, na hora do almoço etc. Tinha acabado o do elefante e não queria emendar em outro Saramago. Foi isso: comecei a leitura sem muita reflexão e me deparei com uma história que vem exigindo de mim toda a atenção possível. Não consigo desgrudar, juro. Até porque a escrita do Fernando Morais é assim: prende a gente, mesmo quando a história é boba. Imagina, então, quando ela é fascinante. Acho no mínimo curioso que eu nunca houvesse ouvido falar disso.

Navegando na internet em busca de mais informações sobre o livro, encontrei uma resenha que informa que Corações sujos está em vias de virar filme, encontrando-se já em fase de pré-produção. Não sei se dará certo ou se acabará resvalando para a caricatura, mas o projeto parece ser sério. Sobre o livro em si, destaco o seguinte trecho e deixo o link, para quem quiser ler o texto na íntegra:

"Corações sujos conta a história da Shindo Renmei, ou "Liga do Caminho dos Súditos", uma seita nacionalista japonesa que nasceu em São Paulo logo após o fim da Segunda Mundial e aterrorizou a colônia de japoneses no Brasil. Seus seguidores acreditavam que a notícia da rendição nipônica não passava de um golpe de propaganda dos aliados para acabar com o orgulho dos japoneses e não aceitavam o fato de que o Japão havia sido derrotado. Com isso, em poucos meses, os mais de 200 mil imigrantes que viviam no Estado de São Paulo estavam divididos entre os kachigumi, ou "vitoristas", da Shindo Renmei, apoiados por 80% da comunidade japonesa no Brasil, e os makegumi, ou "derrotistas", apelidados de "corações sujos" pelos militantes da seita.

Organização militarista e seguidora cega das tradições de seu país, a Shindo Renmei declarou guerra aos "corações sujos", acusando-os de traição à pátria pelo crime de acreditar na verdade - ou seja, que o Japão havia se rendido -, e passaram a perseguir e assassinar os "derrotistas". Em pouco mais de um ano, entre 1946 e 1947, os matadores da Shindo Renmei percorreram o Estado de São Paulo realizando atentados que levaram à morte 23 imigrantes e deixaram cerca de 150 feridos."



Pode parecer fútil, mas o fato é que, além de trazer uma
história real e instigante, narrada por Fernando Morais,
o livro tem um projeto gráfico lindo de morrer



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