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segunda-feira, 30 de julho de 2012

A vizinha, o coelho e a pipoca

Não moro em prédio. E acho super estranho o costume que as pessoas têm de cumprimentarem desconhecidos nos elevadores, nas filas, nos pontos de ônibus. Sou péssima nessa história de desejar “bom dia” para estranhos, mas sigo tentando, embora confesse que, na maior parte das vezes, meu cumprimento deva soar ininteligível, um mero grunhido. Afinal, para piorar tudo, sou tímida e sinto uma quase inveja dos despudorados que saem por aí desejando bons dias, boas tardes e boas noites a quem quer que seja. Bem, tudo isso é para tentar justificar o que muitos entendem como falta de educação.

Já melhorei bastante. Hoje, sou capaz de responder claramente ao cumprimento recebido. Se me desejam bom dia, desejo de volta. E, no trabalho, eu já falo com os ascensoristas com alguma tranquilidade... Bem, depois de mais de dois anos de trabalho, não posso considerá-los desconhecidos (mas estranhos eles são, sério!). Dou bom dia, sorrio e torço (se fosse religiosa, rezava) para não puxarem assunto comigo. É que ainda acho as conversas de elevador super constrangedoras...

Por conta desta minha tentativa de aprimorar minhas práticas sociais, há alguns anos, passei a cumprimentar uma vizinha que sempre via quando estava a caminho do ponto de ônibus. Isso fez com que, em algum momento, ela se sentisse à vontade para puxar conversa, obviamente. O pior é que, desde que a vi pela primeira vez, achei-a esquisita, com cara de maluca mesmo. A filha dela, então, me parecia um monstrinho... E o marido, ah!, esse até hoje me assusta... Psicopata define. Dos três é quem mais vejo, passeando com os cachorros, mas ele não fala comigo (yeah!).

Então, ela se apresentou (e eu não lembro o nome dela, nem de nada do que ela falou sobre si) e me perguntou uma série de coisas... Estar com ela, embora por breves momentos, sempre suscita interrogatórios ou diálogos bizarros. Como no dia em que ela me perguntou sobre meu marido e quase me abraçou quando contei que ele havia morrido. Eu nem sabia que ela sabia que eu era casada! Foi um dos momentos em que mais tive medo, sinceramente. Imagina se ela me abraça? Ai... Terror, pânico, desespero!

Teve uma noite dessas em que eu estava em casa sozinha, acho que chovia (não sei se realmente chovia ou se apenas a chuva me parece apropriada para a situação), já era razoavelmente tarde... E tocou a campainha. Não esperava ninguém e atendi meio desconfiada. Talvez fosse o vigia para me avisar que a gata estava presa em algum lugar... A rua estava escura, não dava para ver direito quem estava no portão. Então, ela falou:

 Beatriz, sou eu! Fulana! (ela falou o nome, mas eu realmente não lembro...)

Enquanto eu tentava me recobrar do susto, ela continuou:

 Será que você não quer um coelho? Olha que bonitinho (apontando para uma bola de pelo de aspecto indecifrável)... É que eu ganhei e não vou poder ficar! Lembrei de você, porque sei que você gosta de bicho...

Claro que eu disse que não, expliquei que as cachorras comeriam o coelho, mas estava tão espantada que mal conseguia falar. Fiquei com medo de que ela deixasse o tal coelho na caixa de correio ou algo assim... Mas ela entendeu e se foi, decepcionada.

Depois disso, fiquei um tempo sem vê-la. Até porque mudei de ponto de ônibus e quase não passo na porta da casa dela. Entretanto, há poucas semanas, estava eu em casa num dia de semana quando a ouvi perguntar à empregada se ela não podia fazer pipoca para ela no meu micro-ondas. É isso mesmo! Pipoca, micro-ondas. Esperta, a Nena se esquivou dizendo que não sabia mexer no aparelho e que eu não estava. Fiquei bem escondida e ela foi embora.

À noite, porém, estava eu trabalhando distraída na sala, perto da janela, quando ouço me chamarem da rua... Era ela, de novo! E com o pacote de pipoca! Gelei... Ela me perguntou se eu não podia fazer a pipoca pra ela e na minha cabeça só ecoava a voz da Nena dizendo que era abuso, que era melhor dar uma desculpa qualquer para não criar costume... Mas eu não podia dizer que não sabia mexer, né?

Bem, pedi a ela para abrir o portão, peguei o pacote, fiz a pipoca e fui até o portão para devolver. Ela me perguntou se eu não trancava o portão de fora, se as cachorras não mordiam, se eu não tinha medo de morar ali sozinha... Ficou parecendo assaltante sondando o terreno. Mais uma vez, senti medo. Espero que isso não vire um hábito. A casa ficou cheirando enjoativamente a manteiga por horas, porque a pipoca era uma tal "de cinema". Talvez da próxima vez eu diga que o micro-ondas quebrou.

Bicudinha e Balu protestam:
"Queremos um ooelho para brincar!"

2 comentários:

juliana alves disse...

Mas que vizinha abusada! Cara feia e nãos são bons pra lidar com essas pessoas entronas...

Beatriz Fontes disse...

Você provavelmente tem razão, mas é tão difícil... Com relação ao coelho, o que eu poderia dizer? Ser estúpida e dizer o quão inapropriado era ela tocar minha campainha àquela hora? E a pipoca... Bem, dizer simplesmente "não" me parece excessivamente rude também. E a desculpa do micro-ondas quebrado só surgiu depois... :-(