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domingo, 6 de março de 2011

Memórias de outros carnavais

Carnaval não é exatamente um momento fácil para mim. Nunca foi. Sempre me senti menos eufórica do que meus amigos. Lembro, quando criança, de pensar cuidadosamente na fantasia que eu usaria e, na hora h, eu me vestia para ficar em casa, muitas vezes sozinha. Soa deprê, né? Mas eu não ficava triste por isso. Às vezes, havia os bailes do Fluminense para ir, mas creio que era só isso mesmo. Fantasiar-me era algo quase burocrático.

Este período do ano tampouco me traz recordações de grandes viagens. Meus avós, tios, primos... Sempre foram ratos de praia e iam muito para a Região dos Lagos. Entretanto, em geral, quando acontecia de eu e meus pais viajarmos, íamos para o sítio, onde não havia carnaval propriamente dito. Mesmo assim eu me fantasiava, pelo que lembro. E nem sempre havia um propósito nisso. O pior era ficar trancada em casa, à noite, sem outras crianças, sendo obrigada a assistir aos desfiles das escolas na TV. Beirava a tortura, porque a casa que tínhamos na serra era pequena e eu não conseguia dormir com aquele barulho.

Namorei e casei com um homem que amava o carnaval, apesar de ser um sujeito absolutamente introspectivo. Sabia todas as letras de samba-enredo, lembrava dos desfiles de cada escola, citava as campeãs de cada ano e me obrigava a passear pela Presidente Vargas para ver as alegorias que entrariam na avenida. Em casa, fazia questão de ver todos os desfiles e teve como grande frustração nunca ter me convencido a acompanhá-lo ao Bola Preta. Era um mangueirense convicto e orgulhoso. Passei anos tentando digerir melhor o carnaval por causa dele.

Este é o meu primeiro carnaval sem o Flávio. Pensei cuidadosamente nas fantasias que pretendo usar. Ontem, fiz minha primeira incursão pelo carnaval carioca (ok, segunda, já que sou assídua frequentadora do Nem Muda Nem Sai de Cima, bloco tijucano a que sinto ter a obrigação moral de comparecer todo ano). Fui de gata, pantera, sei lá o que era aquilo. Choveu. Foi divertido pelas companhias que tive, mas não me senti fazendo parte daquilo. Fomos para a Lapa, mas lá também o carnaval me pareceu um pouco surreal. Resultado? Dormi o sábado inteiro, inclusive meio gripada. Atividades momescas? Nenhuma. Assisti a um DVD e fui ao cinema, sozinha.

Quem sabe amanhã, não é mesmo? Meus amigos em peso irão ao Boitatá. Acho que preciso seguir cada dia de uma vez. Se não chover tem mais chance... Talvez ver os shows gratuitos nos Arcos da Lapa seja uma opção mais realista. Vejamos.

E deixo, aqui, o melhor exemplo musical não-carnavalesco que encontrei para este sábado à noite:

RETALHOS DE CETIM
Benito di Paula

Ensaiei meu samba o ano inteiro,
Comprei surdo e tamborim.
Gastei tudo em fantasia,
Era só o que eu queria.
E ela jurou desfilar pra mim,
Minha escola estava tão bonita.
Era tudo o que eu queria ver,
Em retalhos de cetim.
Eu dormi o ano inteiro,
E ela jurou desfilar pra mim.
Mas chegou o carnaval,
E ela não desfilou,
Eu chorei na avenida, eu chorei.
Não pensei que mentia a cabrocha,que eu tanto amei.

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