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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Sexo e cigarro

Escrito em 15 de agosto de 2011.

Terminado o sexo, ele acendeu o cigarro. Gesto mecânico dos dedos que, em silêncio, correm para o pacote de cigarros e para o isqueiro. Nada além disso. Momento de não pensar em nada, não sentir nada além de corpo e mente relaxados. Torpor e fruição. Observa a fumaça que, aos poucos, toma conta do espaço enquanto forma desenhos abstratos no ar. A única preocupação que passa por sua cabeça - e nem é de fato uma preocupação - é saber se ela vai se incomodar com o cheiro, com a fumaça. Afinal, ela não fuma, e eles se conhecem há poucas horas. 

Ela, também relaxada, se aninha no ombro dele com a languidez típica das que acabaram de gozar. Também em silêncio, sente as pernas doloridas e começa a reparar que há rachaduras no teto, que não vê tinta há anos. Pensa que há uma série de coisas que precisa lembrar de pedir à faxineira, como limpar aquelas terríveis teias de aranha. Admite que, se não pedir, ela não vai limpar. Ouve o cachorro do vizinho latir, uma obra ao longe, os barulhos do trânsito que vêm de longe. Escuta claramente a vizinha brigando com o filho que parece ter quebrado alguma coisa. Acha que talvez seja hora, também, de trocar as cortinas e mudar a cor das paredes. Lembra de uma cena do filme que viu no outro dia, tão parecida com algo que ela já havia lido em algum lugar. Como era mesmo o nome daquele livro?

Então, ela percebe a fumaça e se dá conta de que não está sozinha. Passa a observar os desenhos que se formam no ar, inala o cheiro que se desprende do cigarro fumado por ele. Apesar de não fumar, nunca se incomodou muito com a fumaça largada por seus amigos fumantes. Nos tempos de movimento estudantil, ficavam todos trancados numa saleta preparando os materiais gráficos que seriam distribuídos no dia seguinte. Jornais, folhetos e filipetas que demandavam horas e horas de trabalho. O único inconveniente que a fumaça lhe trazia era o ardor nos olhos, mas nada que um colírio não resolvesse rapidamente. Na verdade, a fumaça do cigarro, o cheiro da nicotina, era para ela inebriante. E, por isso, começou a fitá-lo.

Ele se desconcertou ao reparar que ela não parava de lhe encarar. Pensou que, afinal, ela ia reclamar do cigarro. Isso que dá trepar com mulheres que não fumam! Mais cedo ou mais tarde, elas sempre reclamam. Claro que com ela isso não ia ser diferente. Estava quase zangado por ter sido obrigado a pensar antes que o cigarro acabasse. Mas notou que não havia nada no olhar dela que denunciasse qualquer sombra de aborrecimento. Na verdade, ela sorria, parecia feliz. E isso o deixou confuso. Putz! A doida apaixonou! Será? Mas já? Nem achou que o sexo tenha sido assim tão espetacular... Carência feminina é foda. 

E como se ela não parasse de sorrir para ele, resolveu perguntar:

— Que houve?

— É que o cheiro do cigarro me excita, ela respondeu. 

Estava exausta, mas a verdade é que havia anos tinha descoberto que aquele era um gatilho sexual e tanto. Se ele topasse, não hesitaria em fazer sexo de novo e de novo e de novo. Aliás, racionalizando a coisa, o cheiro do cigarro havia sido uma das coisas que havia lhe chamado a atenção nele. Havia passado horas, no bar, observando-o acender e fumar cigarros na calçada em frente, vários deles. E começou a se imaginar entre aqueles dedos...

Mas ele, ainda a meio cigarro, após um breve silêncio ante a surpresa causada pela resposta dela, disse apenas:  

— Eu, hein!? Nunca vi isso! Se masturba aí, então...




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