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sábado, 1 de maio de 2010

Cinelândia Tijucana

Fim de férias. Vida entrando nos eixos. Novo emprego, novas responsabilidades. São tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo que fica até difícil me concentrar em uma para falar a respeito. No momento, sou toda expectativas, a antítese da concentração. Sinto que tenho um mundo inteiro a explorar, sabe como é?

Apesar de tudo isso, gostaria de deixar registradas aqui algumas impressões que tive sobre uma leitura recente. Trata-se do livro A segunda cinelândia carioca - Cinemas, sociabilidade e memória na Tijuca, escrito por Talitha Ferraz. Fruto da dissertação de mestrado da autora, o livro é o maior barato. Especialmente, para os tijucanos. Não é uma leitura árida, apesar das inúmeras referências bibliográficas e citações, pertinentes a um texto originariamente acadêmico. Minha única crítica, talvez por vício profissional, seja com relação à revisão ortográfica propriamente dita. Não que o texto esteja repleto de erros, mas é nítido que faltou um cuidado maior com a revisão. Fica, então, o alerta para uma segunda edição ou mesmo para um próximo livro.

Eu me diverti bastante com a leitura, por vezes nostálgica. Achei interessantíssimo ler uma obra que trate especificamente da ascenção e do ocaso dos cinemas tijucanos. Afinal, a autora teve acesso a informações muito mais precisas por parte das empresas donas das salas e de antigos funcionários dos cinemas, pesquisou jornais... Coisa que ajuda, inclusive, a desmistificar algumas situações, como a do impacto da construção do Metrô na praça Saens Peña, apontada por muitos como a principal responsável pelo fim dos cinemas. Ora, como se a questão fosse assim tão simples, fruto de uma simples relação de causa e efeito. 


RESUMO
A Praça Saens Peña, localizada no bairro da Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro, já foi chamada de Segunda Cinelândia Carioca, Cinelândia da Tijuca e também de Cinelândia Tijucana. Em 1907, foi uma das primeiras regiões da cidade a inaugurar salas de exibição e chegou a abrigar, ao mesmo tempo, treze cinemas de rua muito próximos uns aos outros, na segunda metade do século XX, tornando-se um notável pólo exibidor que se extinguiu completamente em 1999. Do auge ao fechamento dos movie palaces e poeirinhas que compuseram esse circuito, até a entrada do modelo das salas multiplex na Tijuca, localizadas no shopping center do bairro, verificamos como o cinema, enquanto equipamento coletivo de lazer e promotor de encontros e agenciamentos entre diversos elementos humanos e não-humanos, ressoa na configuração dos espaços construídos das cidades, na vida cotidiana e no imaginário das pessoas. Assim, partindo de uma pesquisa etnográfica que envolveu entrevistas com antigos freqüentadores dos cinemas extintos e observação participante, este trabalho estuda a construção de memórias e como a experiência de espectação cinematográfica, isto é, a atividade de ir ao cinema pôde e pode constituir formas de sociabilidade, possibilitando diferentes tipos de apropriação do espaço urbano.
Palavras-chave: Tijuca, Sociabilidade, Memória, Espaço urbano, Exibição cinematográfica, Espectação cinematográfica

Título: A Segunda Cinelândia Carioca: cinemas, sociabilidade e memória na tijuca
Autora: Talitha Ferraz
Editora: Multifoco
Páginas: 322

Faça o download e confira o índice e a introdução do livro.

4 comentários:

Ticiano Sampaio disse...

Pra você ver, até eu,fortalezense que quase nunca esteve no Rio e adepto de home theaters e essa coisa da espectação cinematográfica ostracista, já assisti a filme nos antigos cinemas da Tijuca! ;)

Beatriz Fontes disse...

Pois é... E imagine que não sobrou nenhum. Agora há apenas seis salas Kinoplex, no topo do Shopping Tijuca, que não fica exatamente na praça Saens Peña, às quais se chega após inúmeros lances de escada rolante ou por meio de elevadores lentíssimos... E, pior, só exibem blockbusters. Não que blockbusters sejam necessariamente ruim, mas o que mata é a falta de opção. Ainda mais quando o mesmo filme é exibido em mais de uma sala, diminuindo a oferta de títulos. Não sei se haveria público para tantos cinemas de rua como antes. Provavelmente, não. Mas unzinho, confortável, com um equipamento decente e sem ocupar um espaço monumental, talvez tivesse alguma chance. :-)

Ticiano Sampaio disse...

E blockbuster em cinema de shopping é certeza que você vai ter de exercitar sua paciência com algazarra de adolescente retardado, esse tipo de coisa, porque o shopping é como que o habitat natural deles... ou seja, tudo numa mudança desse tipo é desvantagem.

Beatriz Fontes disse...

O livro da Talitha Ferraz fala disso e compara também o ambiente dos cinemas de rua (que servia de ponto de encontro para as pessoas) e esses cinemas do shopping, que têm um hall enorme e vazio. Ninguém espera por lá mesmo, entende? É um ambiente inóspito! E ainda tem isso de reunir uma quantidade gigantesca de adolescentes... Aff!