Tomei coragem e fui ao cinema (o novíssimo Arteplex) para assistir ao “Terra em Transe” (1967), do Glauber Rocha. Tive medo de dormir durante a sessão, sei lá. Afinal, minha primeira experiência com esse filme foi pra lá de péssima: em vídeo (dessas coleções que a gente compra nas bancas). Não entendi nada! O som era péssimo e a imagem parecia meio desbotada. Eu era muito nova e a única coisa que já tinha visto do Glauber Rocha tinha sido “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (e no cinema!). Na minha ânsia de ver outros filmes dirigidos por ele, acabei apelando para o vídeo. Claro que não deu certo.
Amei o filme. E a temática ainda é de uma atualidade angustiante: esse é um filme a que todo estudante de Jornalismo deveria assistir. Faz parte da “filmografia obrigatória”, por assim dizer. Além disso, fizeram um bom trabalho de restauração: a cópia que está em cartaz é excelente. A gente consegue entender os diálogos, acompanhar a história... E nem de longe lembra aquela coisa desbotada a que assisti tempos atrás. Fiquei surpresa com a atuação de Glauce Rocha e me diverti tentando descobri rostos conhecidos, como Hugo Carvana e Paulo Autran (todos tão jovens...). No entanto, confesso: continuo achando os monólogos do poeta/jornalista Paulo Martins (Jardel Filho) longos demais e chatos. Mas são indispensáveis...
Engraçado. Sempre que ouço falar em Cinema Novo, me vem à cabeça um único nome: Glauber Rocha. Tenho a impressão de que Glauber e o Cinema Novo são uma coisa só. Para mim, ele é personificação máxima da idéia de que, para fazer filmes, basta apenas “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”. Gostaria de entender melhor esse momento do cinema nacional e esse é um sentimento que me persegue desde o dia em que fui, com a galera do colégio, assistir a uma cópia restaurada de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964) no Estação Botafogo. Foi uma experiência que me marcou para toda a vida: fiquei fascinada pela beleza da Yoná Magalhães (quem diria...) e petrificada com a intensidade da atuação de Othon Bastos, como Corisco. Tanto que, vez por outra, me pego cantarolando: “Se entrega Corisco... Eu não me entrego não...” e o vejo girando... “E o sertão vai virar mar...”
Mas, naquela época, ter acesso a esse tipo de informação ainda era uma tarefa difícil: a internet ainda engatinhava e a tecnologia de um modo geral não era lá essas coisas. Eu não tinha dinheiro para comprar livros, cds e demais bens culturais de consumo. Aliás, nem havia tantas opções de livros como hoje em dia e o pouco que existia era caríssimo! Coisa de colecionador mesmo, para poucos... Por sorte, tive a oportunidade de assistir, no cinema (dessa vez, no Espaço Unibanco), a mais um filme restaurado: “Vidas Secas", de Nelson Pereira dos Santos. Foi paixão à primeira vista! Trata-se de um filme irretocável, desses que – se fosse possível – a gente emoldurava e pendurava na parede. Por isso, posso dizer, sem medo de soar ridícula, que a morte da cadela Baleia foi uma das cenas mais tristes a que já assisti na telona (pau a pau com a da morte da mãe do Bambi). E eu, já estudante de Letras, fiz as pazes com o Graciliano Ramos que me atormentava com seu “São Bernardo” no tempo do colégio. (Aliás, esse eu li, reli e recomendo. Só não consigo terminar de ler, justamente, o “Vidas Secas”, porque achei o final do filme tão perfeito que tive medo de estragar. Interrompi a leitura no penúltimo capítulo.)
Mas, naquela época, ter acesso a esse tipo de informação ainda era uma tarefa difícil: a internet ainda engatinhava e a tecnologia de um modo geral não era lá essas coisas. Eu não tinha dinheiro para comprar livros, cds e demais bens culturais de consumo. Aliás, nem havia tantas opções de livros como hoje em dia e o pouco que existia era caríssimo! Coisa de colecionador mesmo, para poucos... Por sorte, tive a oportunidade de assistir, no cinema (dessa vez, no Espaço Unibanco), a mais um filme restaurado: “Vidas Secas", de Nelson Pereira dos Santos. Foi paixão à primeira vista! Trata-se de um filme irretocável, desses que – se fosse possível – a gente emoldurava e pendurava na parede. Por isso, posso dizer, sem medo de soar ridícula, que a morte da cadela Baleia foi uma das cenas mais tristes a que já assisti na telona (pau a pau com a da morte da mãe do Bambi). E eu, já estudante de Letras, fiz as pazes com o Graciliano Ramos que me atormentava com seu “São Bernardo” no tempo do colégio. (Aliás, esse eu li, reli e recomendo. Só não consigo terminar de ler, justamente, o “Vidas Secas”, porque achei o final do filme tão perfeito que tive medo de estragar. Interrompi a leitura no penúltimo capítulo.)
4 comentários:
Oi Bia!
Gostei do texto, mas quanto link meu deus! O texto tá até colorido em azul e branco, e como torço pela Portela, não achei ruim! :)
Em relação à morte da cadela Baleia... Deve ser triste mesmo, talvez pau a pau com a morte de Dona Bambizona... Mas será que barra a tragédia que culminou no falecimento de Mufasa, o pai do Simba em "O Rei Leão"? Acho difícil, hein?!
Grande beijo pra vc!
R. Mariano
Menina, então vi o link para seu blog quando eu fui visitar a tua página lá na Comunidade da Telemar. Vc havia me deixado um comentário, porque eu sou jornalista e estou numa comunidade de educação.
Enfim, como sou dada a blogs e afins vim xeretar o seu e de cara estou certa que voltarei. Eu adoro cinema, mas ainda estou longe de ser uma cinéfila. Muito embora eu adore sentar e escrever textos sobre minha experiência com os filmes.
Visite meu blog. Tá dentro do multiply: monicasantana.multiply.com
Eu tb tive uma experiência muito difícil com o Terra em Transe. Dormi, não entendi, vi, revi, trivi e só na quarta tentativa consegui compreender e entrar naquela narrativa.
Realmente é um filme que dá vontade de emoldurar e cujo sentido não se esgota.
Uma obra para ser vista e revista.
E é, quando falamos em cinema novo, parece que só existiu Glauber. Que coisa. Quando que teve Ruy Guerra, Arnaldo Jabor, Bressane,outras figuras, que sim não foram tão geniais, mas que tiveram a sua contribuição.
Agora, vale a pena fazer uma visitada nos filmes do Cinema Marginal, especialmente em O Bandido da Luz Vermelha, obra prima do cinema nacional feita por Rogério Sganzella.
Filmaço.
Siga a dica, cê vai curtir.
Acabei de ler sobre um monte de filmes e realizadores de que nunca tinha ouvido falar! Aqui a Portugal creio que nunca chegaram! A designação " Cinema novo" está de algum modo relacionada com a "Nouvelle vague" francesa?
Beijinhos
Monica: Seja bem-vinda! Pode deixar que, já já passo no seu multiply.
André: Se tem a ver com a "Nouvelle Vague" francesa? Só tem... É mais ou menos essa a relação mesmo. Só que o movimento do "Cinema Novo", brasileiro, é meio antropofágico... Como foi o Modernismo tupiniquim, aliás.
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