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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Ainda "corações sujos"

Terminei de ler Corações sujos, livro sobre o qual comentei no post anterior. Recomendo-o vivamente, embora ressalte que terminei a leitura um tanto frustrada. Não com o livro em si, pois ele cumpre bem o papel de despertar-nos para um assunto tão árido, mas com a maneira, a meu ver, abrupta, como a narrativa chegou ao fim. Por se tratar de um fato histórico e não de uma ficção, sinto-me à vontade para comentar: os japoneses foram presos, o que fez com que a Shindo Renmei chegasse ao fim. Alguns foram condenados à deportação, mas nenhum chegou a sê-lo. Foram todos perdoados por JK. Ok, até aí. Mas eu não consigo entender, por exemplo, como esses mesmos japoneses, presos, lidaram, enfim, com a realidade de que seu Japão até então invencível havia sido derrotado.

Ao longo do livro, pelos depoimentos que foram colhidos, o discurso geral era de que eles não acreditavam em nada disso, que tudo não passava de propaganda norte-americana e que, caso se constatasse a veracidade de tais fatos, não hesitariam em cometer o suicídio. Pois bem: que me conste, não houve uma onda de suicídios em massa de colonos japoneses após o fim da Shindo Renmei, e as coisas parecem ter sido simplesmente apagadas da história. Talvez o assunto tenha virado um tabu, será? O fato é que sinto que muita coisa ficou de fora do livro. Tenho a impressão de que o autor, por mais que tenha buscado alguma imparcialidade, acabou reproduzindo o juízo de valor das vítimas da seita. Não percebi muita oportunidade (talvez por falta de acesso à documentação ou às próprias pessoas, não sei) para que os membros da Shindo Renmei de fato de manifestassem... E isso inclui mostrar a retomada da rotina dessas pessoas, após a prisão. Como terá sido isso?

Por conta disso, resolvi procurar alguma leitura que pudesse ser complementar à do livro de Fernando Morais. Fiz uma breve pesquisa na internet e já encontrei um: O súdito (Banzai, Massateru!), do jornalista Jorge Okubaro. Ainda não comprei, mas me chamou a atenção uma entrevista com o autor, que é filho de um membro da Shindo Renmei. Ele diz, a respeito da motivação para escrever, o seguinte: "Essa ideia me veio depois da leitura do livro Corações sujos do Fernando Morais. Na época, fui convidado para fazer uma resenha para o Jornal da Tarde. Fazendo essa resenha, me pareceu um livro incompleto, por vários motivos. Não que o livro seja ruim. É bem escrito e, naquilo que trata, trata muito bem". Por isso, acho que esse livro deve responder alguns dos questionamentos que a obra de Morais provocou em mim. Depois eu conto. Obviamente, se alguém aí tiver alguma outra sugestão de leitura, agradeço.


Minha provável próxima aquisição

7 comentários:

Samuel Ribeiro disse...

Olá, entrei no seu blog por acaso e acabei lendo este post. Sou estudante de Ciências Sociais e me interesso muito pela temática da Shindo Renmei. Num trabalho de uma disciplina sobre imigração que eu fiz, li uma tese de mestrado muito boa, a qual recomendo muito! Se chama "Narciso no Império dos Crisântemos: interpretando o movimento Shindo Renmei", de Marcela Jussara Miwa, do meu instituto lá na Unicamp. É um texto que, apesar de ser uma tese, é bem suave e fluido, escrito num estilo autobiográfico e se centrando nas emoções dos agentes daquela história! Acredito que está disponível na internet! Vale a pena dar uma olhada!

Abraço!

Beatriz Fontes disse...

Oi, Samuel! Obrigada pela dica e seja bem-vindo ao blog... Já encontrei a tese que você sugeriu e daqui a pouco eu baixo. Mas, me diga, Samuel Ribeiro, 20 anos, Campinas... Você, por acaso, é o irmão mais novo do Bruno? :-P

Samuel Ribeiro disse...

Hahahaha mundo pequeno! Sou irmão do Bruno sim! Conhece ele? Ah, falando nisso! Fiz um post no meu blog sobre o filme de Corações Sujos que tá pra sair, já que vc gosta, está convidada a dar uma olhada rs. O endereço é bloguedosam.blogspot.com. Vou linkar seu blog lá, tudo bem?

Inté!

Anônimo disse...

Esse mundo cibernético é um ovo. De codorna! :-)

Mari disse...

Bia, Samuel é um amor, um rapaz de mente aberta e inteligente. Quando resolver vir a Campinas, poderá conhecê-lo! Não se arrependerá!
Beijo.

Anônimo disse...

Bom dia, pessoal

Meu nome é Rogério Dezem, sou professor universitário e pesquisador sobre a História dos imigrantes japoneses no Brasil. Desde 1997 venho pesquisando sobre a Shindo e temas associados a mesma. Muitos trabalhos (acadêmicos ou não foram publicados), pouca coisa boa, muita coisa supérflua... pois o tema é complexo e muito delicado. Aqui vão algumas indicações SÉRIAS sobre o tema. Além do Jorge OKUBARO,há Chiyoko MITA, Teresa Hatue RESENDE, Jeffrey LESSER,além de um inventário publicado por mim em 2000 (Shindo Renmei: terrorismo e repressão) com o levantamento dos japoneses presos pelo DOPS sob a suspeita de estar envolvidos com a sociedade. Aqui vai um link de um artigo meu:

http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/realidade_alterada_o_poder_da_shindo_renmei.html

Aguardem para o final de 2010 ou início de 2011 um outro artigo de minha autoria que será publicado em um livro sobre imigração japonesa pela EDUSP. Nele, eu faço uma releitura e análise da Shindo em si e de parte da bibliografia publicada sob a mesma desde meados da década de 1990. Ok?

Abs!

ps. Quanto ao livro do Morais, tem seus méritos, mas é descompromissado com a profundidade do tema, além de incorrer em alguns erros históricos...

Beatriz Fontes disse...

Rogério, parabéns pelo artigo Avise-nos quando publicar o próximo. Além disso, agradeço pela indicação bibliográfica. Acho que o livro do Fernando Morais tem um grande méritos: o formato jornalístico-literário, embora superficial, facilita a introdução do tema para os leigos (como eu). Afinal, trata-se de uma história a que não costumamos ter acesso facilmente. Eu, por exemplo, jamais imaginei que algo assim pudesse ter acontecido.