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terça-feira, 24 de maio de 2005

Se é assim, que venha o próximo 23 de abril

Nem parece a mesma rua. O cheiro de cocô de cachorro, misturado ao do esgoto que vaza dos bueiros, entope as narinas e causa náuseas. Em dias de chuva forte, a situação é ainda pior, porque a rua enche e obriga os pedestres a andar com a água pelos tornozelos. Difícil acreditar que esta é a mesma rua que se enfeita, todos os anos, para a festa de São Jorge, quando predomina o cheiro adocicado da cocada feita na hora. Esse é o descaso em que se encontra a rua dr. Alcides Figueiredo, em Niterói, pelo resto do ano.

Passada a festa, a vida segue seu curso normal. É de manhã. As crianças vão para a escolinha. As donas de casa varrem as calçadas, jogando água aos pés de quem passa. O botequim da esquina recebe seus primeiros fregueses, que bebem e jogam totó ou bilhar. Na outra extremidade da rua, as lojas de automóveis abrem suas portas e começam a ocupar as calçadas com os carros à venda. O culto da igreja evangélica começa com sua cantoria, enquanto não há nem sinal de movimento na igreja de São Jorge. Os mais inquietos são os flanelinhas, que caminham de um lado para o outro, à espera de alguém que queira estacionar por ali.

Os pedestres, sonolentos, seguem – em sua maioria – para o trabalho e nem notam que a vida fervilha ao seu redor. Não vêem a árvore florida que lhes dá passagem, caindo em arco sobre o muro. Também não ligam para os gatos gordos que tomam seu banho de sol matinal e que, alheios a tudo, se espreguiçam com vontade. Não sei se por sono ou se é porque, simplesmente, não podem prestar atenção a nada disso. Afinal, quem anda por aquelas calçadas precisa ter os olhos bem atentos ao chão, tendo o cuidado de ver onde pisa. Além disso, o cheiro nauseabundo de hoje faz com que a gente prenda a respiração e apresse o passo, torcendo para virar logo a esquina. Difícil despertar assim.

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