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quinta-feira, 2 de junho de 2005

E as legendas não me deixam em paz...


O escritor João Ubaldo Ribeiro,
em Língua - Vidas em Português


No post anterior, escrevi sobre o incômodo que me causa a legendagem em filmes – geralmente, nos portugueses, mas também em documentários brasileiros que misturam os diversos falares, como “Janela da Alma” e “Língua – Vidas em Português” – e gostaria de voltar ao assunto. Sei que corro o risco de soar repetitiva e talvez os poucos leitores que tenho já não agüentem mais minhas reclamações a respeito. Entretanto, penso que ainda há algo a ser dito e espero conseguir me fazer entender.

O que me faz retomar este tema é o seguinte: estamos viciados em legendas. A maior parte da produção cinematográfica a que temos acesso é estrangeira e, principalmente, norte-americana. Achamos naturalíssimo ouvir o inglês e, tempos atrás, dada a baixa qualidade técnica dos filmes nacionais, muitos torciam o nariz para as produções brasileiras. O som era péssimo, quase inaudível, o que tornava o filme por vezes incompreensível. Lembro de um filme com o Evandro Mesquita (e do qual já nem lembro o título) em que, durante a exibição, tive ímpetos de levantar e ir embora. Não entendia nada do que ele dizia! Tá bom, alguns vão dizer que a dicção do Evandro Mesquita não é das melhores, mas não vamos exagerar! Aquele filme bem que merecia umas legendas...

Entretanto, mesmo hoje, com toda a melhoria técnica, recentemente tive problemas em entender o que era dito em um filme brasileiro: “Copacabana”. Tentava assisti-lo em dvd, mas o som era péssimo! Então, pensei em apelar para as legendas. Procurei no menu e só encontrei duas opções: inglês e espanhol. Acontece que um dos argumentos a favor das legendas é que elas permitem que deficientes auditivos compreendam o filme. Ora, nesse caso, só se forem poliglotas.

Aliás, esse papo de que as legendas ampliam o alcance dos filmes é uma tremenda mentira. Ainda mais em um país como o Brasil, onde a maior parte da população é analfabeta e sequer tem dinheiro para ir ao cinema. Se fosse por uma questão de clareza, todos os filmes estrangeiros deveriam ser dublados, então. É assim nos Estados Unidos, país ao qual parecemos seguir e obedecer cegamente... Entretanto, por motivos bastante diversos. Lá, a opção pela dublagem se dá, em parte, pela falta de costume de se ouvir qualquer coisa diferente do inglês. É algo meio "bairrista" mesmo. Mas será que eles dublam os filmes escoceses, australianos, irlandeses, ingleses...?

Já aqui, a opção pelas legendas parece vir da idéia de que estas interferem menos na obra. E nisso eu concordo. É notório que toda tradução é uma reinvenção do original. Não importa se na literatura, ou no cinema. Então, as legendas permitem que o espectador acompanhe as inflexões de voz dos atores, entre outras sutilezas. Por outro lado, fica claro o quanto somos uns colonizados. O inglês é nossa segunda língua e, mesmo quem não entende patavina, gosta de dizer que o som original é melhor etc. Mas, e nos filmes falados em português? Qual a justificativa para as legendas? E, admitindo que estas sejam necessárias, por que não transcrever – palavra por palavra – o que é dito no filme? Isso, realmente, parece que continuarei sem entender...

6 comentários:

Anônimo disse...

O Ubaldo precisa de legendas. Às vezes ele fala igual ao Zé Buscapé.

Anônimo disse...

Pois é... Estamira é em português, e ainda assim, assisti o filme inteiro lendo as legendas em inglês.
Vício total e absoluto!
Beijos

Andre_Ferreira disse...

A palavra "dublagem" encantou-me! Em Portugal dizemos "dobragem". Dub é uma palavra inglesa que na música tem diversos significados, desde ser um género de música (afim ao reaggea) até a mistura, ou talvez melhor dito transformação de música pré-existente. Por isso o maior sentido que tem ao se tratar da tradução entre a mesma língua! Há uma transformação do próprio texto!

O cinema americano domina em todo o mundo, ou quase, é a forma deste pais reeducar os cidadãos do planeta e passarem a ser sempre os bonzinhos, uma forma de limpar a sua imagem ou melhor uma forma de impor a sua imagem...

Lembro-me de o ano passado ter visto o filme " A cidade de Deus" ai do Brasil e que felizmente não tinha legendas: posso não ter entendido tudo, mas pelo contexto o que acaba por acontecer é ganhar-se novo vocabulário: a boa vontade é sempre parte importante do se perceber as coisas!

rodrigot disse...

Oi Bia,
Acho q eu posso te ajudar nessa questão terrível.
Muitas coisas podem levar ao resultado de uma legenda ser diferente do falado, mas a mais comum pode ser a faz parte do proprio trabalho de legendagem.
Legendar é um pouco mais do que simplesmente traduzir. A legendagem exige o compromisso com o filme, não soh com as palavras, mas com a estética, vc nao vai ver um filme pra ficar lendo letrinahs, vc vai ver imagens por isso a legenda tem q ser uma versão sintetizada de uma fala.

O tempo de leitura é maior do q o tempo de fala, você pode falar uma frase em 2 segundos e a mesma frase levar 2 a 4 vezes mais tempo do q isso para ser lida, e se vc deixar a fala integral e na duracao que ela precisa vc tá fazendo o espectador assistir menos filme e mais legenda. Por isso as falas às vezes sao escritas de maneira que apenas sintetizem a idéia, sem ser literalmente o que o personagem disse.

Uma legenda tb nao pode engasgar o espectador, num livro diante de uma construção estranha, uma palavra nova, uma palavra grande etc vc pode voltar e ler de novo (e ainda tem o recurso da Nota do Tradutor, etc), no filme ela já passou há de ser legendada de modo q seja compreendida de primeira.

Po, vou parar por aqui.
Eu concordo plenamente q é bem aflitivo assistir um filme com audio e a legenda no mesmo idioma, mas com essas justificativas acho q fica mais facil de entender...
até pq, com o advento do dvd nem sempre vai ser portugues com portugues como vc citou, não acho improvavel, por exemplo, alguem querer assistir um filme japones com audio em ingles e legenda em portugues.

:)
beijo

rodrigot disse...

Caramba! eu to linkado ali na barra verde!
brigado! :-*

Beatriz Fontes disse...

Rodrigo,

Entendo tudo isso que você escreveu... A legendagem é isso mesmo. Mas, o meu questionamento parte simplesmente do fato de, se os filmes brasileiros são exibidos em Portugal sem legendas... Então, por que o contrário não é verdadeiro?